29.11.10

Receita pra um dia feliz

(ou uma vida)


Acordar com um beijo dele e me despedir dele no ponto do ônibus. Ou do trem. Chegar no trabalho antes do Henrique pra ele não reparar quando me atraso. Receber telefonema da Dayanne e almoçar com ela mais tarde. Ler e responder e-mails carinhosos. As conversas corridas com a Simone ou as bobagens ditas com a Vanessa e a Clarissa. Rir das bobagens que a Juliana me manda e saber que ela vai reclamar de não ser chamada só de "Ju". Aceitar de bom grado os conselhos e puxões de orelha que ela me dá. Me confessar, mais uma vez, em e-mails gigantescos para a Raíssa, a Cissa. Pra quem eu invento mil apelidos diferentes. E mil variações pro nome. Comer uma pizza com as alunas da Regina (da turma na qual me incluo) e morrer de rir da dieta mais errada do mundo. Ouvir a gargalhada do Edu. Gargalhar com o Edu. Responder os comentários do Law. Reafirmar a saudade dos primos do Sul. Sentir o cheiro da comida da minha mãe. Sentir o gosto da comida da minha mãe. Roubar as batatinhas fritas do lanche do Diego. Cobrar ao Sanches que faça mais desenhos pro site dele. Receber a massagem milagrosa da Pimentinha. Fugir do cachorro que sempre rosna pra mim quando subo as escadas da casa dele. Reclamar que sim, você é um bagunceiro, menino! Mas saber que eu também sou. Só sou um tanto chata. Ouvir dele que não sou chata - mas saber que sou chata mesmo. Chata pra caramba. Lembrar que sempre escuto isso do Léo. Mas que também sempre escuto da Camila que eu sou o máximo. Não que eu acredite sempre nela... Ou nele...
Encontrar o Damasco e rir das histórias dele. Com ele. Re-ler as cartas da Cissa e lembrar que preciso respondê-las. Passar horas assistindo as séries da Warner com o Sérgio fingindo que presta atenção. Tentar entender o portunhol do Sérgio. 
Fazer a Amanda perder o medo do mar. Pegar o Lucas no colo e perceber que já não aguento mais com o peso dele. Me esconder do Gabriel pra ele me encontrar aos berros.
Ganhar LP do U2 e cd da Alanis. Implicar com as idéias de reformas da minha mãe. Dizer "eu te disse" depois que não dá certo. Cochilar com o Alexandre, no meio de uma conversa. Falar impropérios no msn. Com todo mundo. Ser a melhor amiga das minhas melhores amigas. Falar com a Karine que a Sarah está cada vez mais bonitinha. Falar da vida com a Talita. Falar da minha vida e da vida dela, claro. Filosofar insanidades com o Diego. Paiva. Receber o carinho da Lu. Conversar com os chatos do chat'z por horas. Receber as dicas e revisões da Kél. Deitar no divã da Angel. Me sentir puritana perto dos relatos do Montz ou lúcida perto das loucuras do Oz. Me identificar com a Bia, menos quando ela jura que gosta de Justin Biber. Ler as cartas virtuais do Winz e implicar com o Danz mandando s2 e <3 pra ele. Ouvir meu avô contar as histórias da família. Deitar no colo da minha mãe. Relembrar, com minha mãe, as coisas que minha avó dizia. Rir das piadas mais sem graça do mundo. Reclamar que o Wesley não me liga mais. Me desculpar porque não posso ligar pra ele. Nem pra ninguém. Assistir Moulain Rouge pela milésima vez com a Clarinha e a Vanessa. Pedir "palha italiana" pra Day e ela fazer. Roubar vodka no luau. Ir ao show do Lenine, de graça, com os amigos. Trocar de roupa na webcam pra Vanzinha dizer o que me veste melhor. Passar três horas – ou mais – na Fundição me pendurando em tecidos e trapézios. Abraçar o Fabinho. Pegar a Lívia no colo. Sair de carona com a Cindy ou na garupa da Tereza. Bagunçar a aula da Ale. Viajar pra São Paulo com a “Trupe do Bixcoito”.
Planejar o fim de semana com o namorado.
Esbarrar com ele na escada do curso e na escada da casa dele, mais uma vez.
Escrever pra ele musicar e me apaixonar, mais uma vez, por ouvir ele tocar o que escrevi.
Roubar os livros dele. O cordão, o anel, o coração... E sentir saudades instantâneas.
Acordar com um beijo e me despedir dele no ponto do ônibus. Ou do trem.
Repetir tudo de bom que já fiz até hoje. Não necessariamente nessa ordem.
E não precisa ser em um dia só...


Tem mais ingrediente nessa receita... Ingredientes secretos.
Outros que eu deixo pra outro dia =)

20.11.10

Das conversas de madrugada



Em determinado momento, dentro de um contexto, é óbvio, o amigo querido me disse:

- Posso concluir que deve ser uma loucura pra um cara estar com você.
- Como assim?
- Assim... tipo como se fosse um eterno passo em falso sabe? Como se a cada dia fosse um novo motivo pra ter aquele frio na barriga.
- Hum
- Eu posso concluir que estar com você deve ser como cair num abismo que o chão não chega nunca!


Isso foi um elogio.
Não foi?

17.11.10

Carta com pressa


Escrevo-te essas mal traçadas linhas...

Você já conhece a minha mania de falar quase sem respirar. E de escrever da mesma maneira, sem dar muito tempo ao raciocínio. Caso contrário, acabo não escrevendo o que realmente penso. E sinto.
Por isso estou escrevendo essa carta assim, com essa letra garranchada, sem passar a limpo as palavras manchadas de pressa.
Só peço que você me leia com a mesma urgência. E um pouco de paciência. Me leia sem revisões, sem riscos nas minhas palavras e sem correções nos meus verbos mal colocados. Só espero que você leia aquilo que não escrevo. Me leia, mesmo sem seus óculos. Me leia de longe, de perto ou em braille. Mas não me interprete. Não me disserte. Principalmente se você for me racionalizar. Não tente, por favor, me fazer ter um sentido. Porque não o tenho.
E tudo isso você já sabe. Apenas ouça quando digo sem palavras, monossilabicamente, o quanto te quero. E é muito. Ou o quanto estou feliz por estar onde estou. E não é pouco. 
Você já conhece a minha fama de ovelha negra. Era de se esperar que eu não valesse grande coisa. Mas entenda: se te mostrei o pior que havia em mim, foi só para que enxergasses o que tenho de melhor.
Meu infinito particular* que já não é tão particular assim. É também seu, porque te deixei entrar, conhecer, explorar. E se te restam dúvidas, é só perguntar. Não, não tenho manual, mas não sou tão difícil de ler*. E você entende tanto de letras... Sabe aquilo que disseram na música, sobre ainda ser a mesma pessoa mas passar a gostar de ser? Pois é, moço. Parece que voltei a ser alguém de quem eu gosto. Ao menos, gosto quando com você. E gosto de escrever pra você. Sobre você. Em você. Escrever escondido enquanto você dorme ou na sua pele enquanto você me suspira. E me respira. E me sussurra.
Leia meu sorriso enquanto te cheiro. Leia minhas mãos enquanto te toco. Trace meu destino nas linhas da minha mão enquanto seguro as suas. Enquanto te marco a pele para ler-te meu. Leia meu mapa astral enquanto fecho os olhos serenados das estrelas dos teus olhos. 
Você deve ter ouvido falar da minha mania de ir embora. Que dormiria do meu lado e acordaria sem minhas mãos no teu cabelo. E isso, nenhuma cigana precisaria prever em suas cartas cortadas. Eu iria mesmo embora, você bem sabe disso.
Você só não podia esperar que eu quisesse mesmo, tanto e muito ficar. E esse teu medo que eu vá embora faz menos sentido do que um telefonema de madrugada que finge estar tudo bem. Que mascara a intenção, mas não disfarça a voz. O tom. O Som.
Me leia! Com  mesma pressa que relato. Com a mesma urgência que me consome ao te escrever essa carta. Me leia com a certeza que me tens como esse papel amassado tem minhas palavras. Escritas. Transcritas. Corridas. Nessa pressa de te encontrar e fazer-te entender sem palavras aquilo que não digo. Me leia! Com prefácio, prólogo e orelhas. Me leia a pele, o gosto, os olhos. Me leia nua e me saiba tua.

Me abandono contigo para que tenhas a certeza de que volto.

13.11.10

O que não está nos livros


Eu acerto muitas perguntas daquele programa de conhecimentos gerais. Acerto, principalmente, as perguntas sobre livros. Li quase todos os livros do alemão Hermann Hesse e do norueguês Jostein Gaarder. Sei quais são as histórias mais famosas da "rainha do crime" e reconheço por título todos os livros de Clarice Lispector. Tenho medo de ler Caio Fernando Abreu, porque nos textos dele sempre aparecem coisas que eu não quero saber. Geralmente a verdade. Li todos os sonetos de Shakespeare. Li Camões, Neruda e Drummond de Andrade. Antigamente confundia Álvares de Azevedo com Augusto dos Anjos. Hoje não confundo mais. Quando estudava, sempre tirava boas notas em literatura. Em história um pouco menos, mas ainda assim, boas notas. Li todos os livros obrigatórios para fazer provas. Uns com tanta má vontade, que depois de muitos anos resolvi re-ler e acabei gostando. Leia-se Machado de Assis. Me sinto amiga íntima do Marcelo Rubens Paiva e do Richard Bach. Da Martha Medeiros também. Acho que li quase todos os livros da Coleção Vaga-lume. Li Cecília Meireles ainda criança. Recitava na escola, inclusive. Li tudo que é livro do Ziraldo. O Menino Maluquinho, eu sabia de cabeça. O Menino do Dedo Verde, só algumas partes. Sei de cor uma ou duas poesias do Vinícius de Moraes. E pela minha memória restritiva, isso é um grande feito. Ah, já decorei algumas partes de Nelson Rodrigues também, mas era pro teatro. Conta? Também tinha decorado, no teatro, alguma coisa do Woody Allen, mas só gosto mesmo é do livro "Cuca Fundida". Leio de tudo que me aparece e me apetece. De C. S. Lewis a Lewis Carroll. De Kafka a Snicket. Li livros de fantasia, de ficção, terror, suspense, crimes. De Oscar Wilde a George Orwell. E li Zafón, Zusak e Suassuna. Morro de rir com a piadinha "Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de Baudelaire". Poucos riem. Li Garcia Márquez mesmo sem gostar. Sei quase de cor a principal obra do Saint-Exupery. Gosto do Alan Poe e detesto o Gaiman. Ainda vou ler Saramago, mas desisti de Alighieri. Definitivamente. Eu acho. Conheço Voltaire, Descartes e já li alguma coisa de Nietzsche, veja que clichê. Li tantos romances que nem tenho como contar. Mas o que eu queria mesmo, era aprender sobre as coisas que eu ainda não sei. Eu queria que você me ensinasse as coisas sobre você. Tudo que eu queria saber, não está em nenhum desses romances que eu li. E para entender as coisas sobre você, não vai adiantar toda a psicologia ou filosofia que moram na minha estante. As histórias que eu quero que você me conte, não estão nos livros, porque são sobre você. E ninguém escreveu antes, essa história que ainda nem começou. Pode ser um romance. Pode ser um drama. Ou quem sabe uma comédia romântica água-com-açúcar? Sou capaz de responder muitas perguntas sobre livros e autores. Sou capaz de acertar muitas perguntas dos programas de conhecimentos gerais. Poderia até mesmo trabalhar em uma livraria e indicar quem-escreveu-o-que para os clientes. Mas em nenhum dos livros que já li, encontrei as respostas que espero de você.
Que tal se você me ensinasse?

1.11.10

Em tempo real


Carol Rodrigues

As palavras me escapam dos dedos, com o espanto de quem não consegue contar o tempo que elas percorrem o espaço entre meu pensamento e as teclas. Você entrou sem bater na porta, e antes que eu pudesse notar sua presença, já estava você, de pé atrás de mim, lendo tudo o quanto digito quase sem pensar! E mesmo você estando tão próxima, é ao longe que ouço o som do seu sorriso, ao ler meu texto assim, em tempo real, enquanto você apenas me observa escrever! Engraçado e incômodo o sentimento que me assola, como se me importunasse ver-te assim, me observando, me vigiando... Mas na verdade, por mais que eu saiba que isso me incomoda profundamente, não estou nem me importando com teus olhos em mim, por cima dos meus ombros! Vejo seu reflexo na tela do monitor, e de repente penso que preciso medir cautelosamente as palavras que escrevo e ter cuidado com o que escrevo e com o que você lerá, mas basta-me pensar que ao escrever apenas o que penso, escreverei sobre você. Você entrou tão de repente que não tive tempo de decidir e nem espaço para agir, as horas, as palavras, os pensamentos, as sensações e tudo o mais, passaram a ser teus... Passaram a ser você! Você deu a volta por cima das minhas certezas imprecisas e de minhas certas incertezas, você desfez as minhas defesas e destruiu minhas atalaias... E foi tudo tão rápido, que quando percebi, você já estava aqui, atrás de mim, lendo tudo o quanto estou escrevendo! E agora, de súbito, percebi que me faltam palavras, e que não me basta apenas olhar teu reflexo no monitor, preciso de mais, preciso me refletir em teus olhos... 

Não posso dizer mais do que isto!

Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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