27.5.11

É isso


Amar é Punk
(Texto e interpretação: Fernanda Mello)


"Eu já passei da idade de ter um tipo físico de homem ideal para eu me relacionar. Antes, só se fosse estranho (bem estranho). Tivesse um figurino perturbado. Gostasse de rock mais que tudo. Tivesse no mínimo um piercing (e uma tatuagem gigante). Soubesse tocar algum instrumento. E usasse All Star.

Uma coisa meio Dave Grohl.

Hoje em dia eu continuo insistindo no quesito All Star e rock´n roll, mas confesso que muita coisa mudou. É, pessoal, não tem jeito. Relacionamento a gente constrói. Dia após dia. Dosando paciência, silêncios e longas conversas. Engraçado que quando a gente pára de acreditar em “amor da vida”, um amor pra vida da gente aparece. Sem o glamour da alma gêmea. Sem as promessas de ser pra sempre. Sem borboletas no estômago. Sem noites de insônia. É uma coisa simples do tipo: você conhece o cara. Começa, aos poucos, a admirá-lo. A achá-lo FODA. E, quando vê, você tá fazendo coraçãozinho com a mão igual uma pangaré. (E escrevendo textos no blog para que ele entenda uma coisa: dessa vez, meu caro, é DIFERENTE).

Adeus expectativas irreais, adeus sonhos de adolescente. Ele vai esquecer todo mês o aniversário de namoro, mas vai se lembrar sempre que você gosta do seu pão-de-sal bem branco (e com muito queijo). Ele não vai fazer declarações românticas e jantares à luz de vela, mas vai saber que você está de TPM no primeiro “Oi”, te perdoando docemente de qualquer frase dita com mais rispidez.

Ah, gente, sei lá. Descobri que gosto mesmo é do tal amor. DA PAIXÃO, NÃO. Depois de anos escrevendo sobre querer alguém que me tire o chão, que me roube o ar, venho humildemente me retificar. EU QUERO ALGUÉM QUE DIVIDA O CHÃO COMIGO. QUERO ALGUÉM QUE ME TRAGA FÔLEGO. Entenderam? Quero dormir abraçada sem susto. Quero acordar e ver que (aconteça o que acontecer), tudo vai estar em seu lugar. Sem ansiedades. Sem montanhas-russas.

Antes eu achava que, se não tivesse paixão, eu iria parar de escrever, minha inspiração iria acabar e meus futuros livros iriam pra seção B da auto-ajuda, com um monte de margaridinhas na capa. Mas, CARAMBA! Descobri que não é nada disso. Não existe nada mais contestador do que amar uma pessoa só. Amar é ser rebelde. É atravessar o escuro. É, no meu caso, mudar o conceito de tudo o que já pensei que pudesse ser amor. Não, antes era paixão. Antes era imaturidade. Antes era uma procura por mim mesma que não tinha acontecido.

Sei que já falei muito sobre amor, acho que é o grande tema da vida da gente. Mas amor não é só poesia e refrões. Amor é RECONSTRUÇÃO. É ritmo. Pausas. Desafinos. E desafios.
Demorei anos pra concordar com meu querido (e sempre citado) Cazuza: “eu quero um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida”.
Antes, ao ouvir essa música, eu sempre pensava (e não dizia): porra, que tédio!

Ah, Cazuza! 

Ele sempre soube. Paixão é para os fracos. Mas amar - ah, o amor! - AMAR É PUNK.





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Quando eu vi/li esse vídeo/texto a primeira vez, eu pensei: Caramba, é isso!
É o tipo de coisa que você sabe que tá ali, te descrevendo, mas não por completo, porque afinal, não foi você que escreveu. E também porque você ainda não encontrou esse tal amor.

Mas você sabe, embora desacredite de si mesma todos os dias, que ainda há de encontrar esse "amor pra vida", porque de paixões você já está farta. Porque pras paixões, você não tem mais paciência, idade e nem saúde. Talvez isso soe um tanto otimista para os meus padrões.
Mas aqui, eu entro na mesmíssima questão que abordei nesse post sobre esse outro vídeo: Trata-se de uma esperança que ele (o vídeo) esteja certo. Que sim, é possível. E que graças a Deus, é você (eu) e suas (minhas) convicções pessimistas que estão erradas.
Sei que amanhã já vou ter me arrependido de dizer e confessar esse tipo de coisa e ir tão contra a missa que eu prego todo dia. Mas a verdade, aquela que não conto nem pro meu alter-ego, é que eu (sinceramente) gostaria de acreditar que pode ser diferente.


Quero mais é quebrar a minha cara.




Tô corajosa hoje, heim?

12.5.11

Nós e a nossa falta de música



Eu não saberia lhe explicar a minha pressa pelas coisas. Todo dia faço minhas malas, mudo de uniforme, visto outra canção, forjo maturidade, me divorcio do amor da vida e me apaixono por quem não conheço. De uma forma ou de outra, estou sempre partindo. E não culpo esse ciclo inevitável e louco das vontades. Não culpo o cigarro, o café e tampouco a programação da madrugada. Minha ansiedade não tem nome. Ainda sou moldura vazia. 

Das viagens diárias que faço, comecei a cultivar em mim uma inesgotável saudade do passo seguinte, mesmo que ele seja para trás. E ultimamente, as portas têm se mostrado cada vez mais à sombra de meus calcanhares. É como se eu andasse pra nunca chegar onde sempre almejei. É estranho, admito. Tão estranho que é impossível não buscar o isolamento. As luzes lá fora me desafiam a cada instante e meus olhos não suportam mais o brilho da espada. 

Fuga: quem poderia te condenar no meio de tantas correntes? 

Por que dizer que fugir não resolve se é fugindo que meu coração pulsa de verdade? É correndo de encontro ao desconhecido que meu sangue ferve e meu rosto cora. É fantasiando o meu destino que consigo transcender a fantasia. 

Ontem mesmo, ao ligar a TV, me deparei com um bombardeio de notícias sobre os cada vez menos variados temas: futebol, religião, política, dicas de beleza, dicas de moda, dicas de alimentação, reality show, casamento real e mais dicas: de saúde, de roupas para a estação, de baladas, de leituras... Nada além divagações sobre o grande boteco de esquina do mundo. Nada muda e isso nos traz uma sensação surda de perfumaria.  

É por isso que parto diariamente. Há um túnel invisível e em constante movimento entre meu corpo e o instante seguinte. O sonho da semana passada é a obrigação da semana que vem. A massa de modelar da infância é o projeto arquitetônico da vida adulta. 

E como nos tornamos cada vez mais chatos e sem brilho! Até quem se julga o espelho da juventude não consegue dar vez ao silêncio para simplesmente apreciar a sabedoria do amigo ou a inocência da criança, sem saber que a ausência delas nos torna seres violentamente insuportáveis. Apenas nós e nossa falta de música. 

Sim, nós e nossa falta de música.





Texto do meu amigo, escritor, poeta, músico e companheiro de madrugadas insones no msn, Ithalo Furtado. E nasceu de uma conversa sobre as angústias que nos afligem. Acreditam?
Vocês podem conhecer o trabalho dele no Poesia Diária e agora também no Trama Virtual
Sou suspeita pra falar mais, porque de um cabra que se inspira em bobagens ditas no msn e escreve uma coisa linda dessas...
Só posso mesmo é copiar, colar e mostrar pra todo mundo!
E que não nos falte música! Nem poesia!


Bjos Ithalo!
Adorei, viu?

5.5.11

Ego sum fraus


     - Então que eu poderia ser qualquer coisa, mas resolvi ser isso que sou hoje. Eu poderia ser engraçada, tranquila, pacífica. Ou poderia ser louca, histérica e terrorista. Veja bem, eu poderia me filiar a Al Kaeda.
Eu poderia ser menos neurótica, menos autocrítica. Mas o que eu faço ao invés disso? Fico aqui me culpando por não ser perfeita. Entre tantas coisas que eu poderia ser, vou escolher justo o que não posso ser. Pois é, eu queria ser perfeita. É que eu sou presunçosa assim mesmo. Tenho essas manias de grandeza e sempre penso que gostaria de não ter problemas. Ser quase uma não-humana. Sabe? Perfeita. E nunca ter comida no dente quando sorrir. Nunca ter unha quebrada, esmalte descascando, perna precisando depilar. Gostaria de ter cabelo de comercial de xampu e corpo de mocinha de cinema. Eu queria saber andar num salto agulha e nunca escorregar ma rua. Nunca esquecer onde parei o carro no estacionamento do shopping. Sempre saber o que dizer no telefone e nunca ficar sem assunto bem no meio de uma conversa. Por nunca presenciar momentos constrangedores. Nunca praticar ato falho. E nunca rir em momento impróprio. Então eu fico me culpando por cometer tantos erros, por ser tão desastrada e tão sem noção das coisas. Sabe gente sem noção? Prazer. Incoerência é meu nome do meio.
Fico revendo como num filme mudo, as cenas dessa comédia pastelão que eu enceno. Como um reality show de horrores. Um freak show. Eu deveria ter vergonha de admitir, mas só eu assisto. Não tenho a mínima audiência. Eu trago comigo mil expectativas diferentes. Malas e malas desfeitas, cheias delas. Eu quero parecer algo que não sou. Quero parecer a mais bela flor dos jardins de Monet. Eu poderia ser qualquer coisa, menos ser perfeita. 
E era só isso que eu queria.




     - Eu poderia ficar me culpando por todos os erros que cometo. Eu poderia enlouquecer pensando em tudo que acontece de ruim. Eu poderia chorar em cima de cada plano desfeito ou de cada desvio de rota. Mas eu não consigo ter um porto certo, meus barcos foram construídos sem âncoras. Veja só, que desastre. Meu destino é sempre diferente. Não me importo, nasci com uma espécie de leveza. Quem é leve assim, pode ir a qualquer lugar que queira, porque o vento ajuda. Minha alma é nua, não carrego sobre-peso, sou imperfeita. Quero tudo o que não é perfeito. Cabelo desgrenhado pelo vento, roupas fora de moda, despertadores quebrados, crises de riso com piada sem graça. Quero o inapropriado. O extravagante. Quero tudo que engorda. Quero dizer as palavras mais esdrúxulas e rir porque acho "esdrúxula" uma palavra engraçada demais para ser séria. Quero misturar tequila com coca cola, misturar vestido com tênis, um corpo nu junto no meu. Eu poderia ser uma pessoa séria, mas sou essa ai fazendo careta na fotografia. Sou a mais debochada das moças. Sou essa que erra a letra da música. Sou essa que não sabe fritar ovo e consegue destruir qualquer receita, por mais simples que seja. E se tiver dificuldade de me reconhecer, serei sempre a que dança mais desajeitadamente possível, esbarrando em todo mundo, pisando em todo mundo porque dança de olhos fechados bem no meio do salão. Sou a louca que grita mais alto no karaokê. Uma perfeita Tetê Espínola, extremamente desafinada. Eu posso ser qualquer coisa que quiser. Posso mudar a qualquer momento, sempre que cansar um pouco de mim. Sou livre e jamais seria algo que não desejo, nem por um instante, muito menos pra agradar alguém.
Agrado-me a mim mesma apenas sendo quem quero ser. 
Eu não tenho raízes, meu chão é o céu.




-Seja lá quais forem nossas diferenças, acho que nós duas somos uma fraude!




-Não se engane. Nós duas somos a mesma pessoa...









*"Ego sum fraus", do latim: sou uma fraude!

Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
Expresso pra Dois © Todos os direitos reservados :: Ilustração por Rafaela Melo :: voltar para o topo