9.12.09

Das Palavras


We♥It


Simples como qualquer palavra que eu já nem preciso falar
-Anitelli

As palavras sempre me foram poucas. Quando eram muitas, traziam o arrependimento por falar demais.
Quando não, destoavam do meu verdadeiro tom.
Palavra quando usada demais desbota. Que nem jeans surrado. Que nem allstar muito usado.
Perde a cor, que nem roupa colorida lavada por muitos anos!
Palavras são displicentes. Perdem partes da gente pelo caminho. Deixam cair pelo chão, pedacinhos de sentimentos que deveriam levar até quem nos ouve. E são tão poucas, que não conseguem explicar ao coração o que é esse descompasso, do que é feita essa angústia, como desenrola esse emaranhado de sensações.
As palavras nunca serão o bastante e a minha sina é viver perdida entre elas, buscando algo que satisfaça essa dúvida constante: o que dizer?
O que dizer quando me sento sozinha no chão do quarto juntando os pedacinhos que perco ao longo do dia?
Como explicar que a ausência de certas peças ocorre, porque as perco no caminho, na rua e não apenas dentro de casa?
As palavras se confundem nas preces em todas as vezes que eu rezo baixinho dizendo nomes sem nem ao menos saber porque.
Talvez nomes de caminhos cruzados, histórias incompletas, sonhos perdidos na névoa dessa cidade cinza. Cinza, cada vez mais cinza!
As palavras não dizem, mas os sonhos perdidos querem voltar para casa e ás vezes conseguem. Passam dias circundando sua antiga morada, como um filho pródigo que não sabe como será recebido e só depois de muito tempo tomando coragem resolvem voltar.
Não ouso contestar quando dizem que algumas palavras são desnecessárias. Por mais que eu escreva, por mais que queira dominá-las e entendê-las... São só palavras e saem perdendo quando quem entra em campo é o sentimento. Esse sim, robusto e imponente, tem o poder de calar todas as palavras do mundo quando lhe convém.
O grande problema é entender qual é o sentimento que faz sentido. Assim, sem forma, ele é tão fraquinho que entende que apenas os sentimentos que fazem sentido é que tem força o bastante para ser independentes. Acho que só me resta esperar que ele encontre o sentido sozinho, eu já não tenho pressa e nem forças para fazer isso por ele.
As palavras sempre me foram poucas e ainda assim, eu preciso delas pra explicar um pouco do que eu sou, pra descomplicar um pouco essa complicação sem fim.
Preciso dela pra contar os dias, as horas... Todos os segundos dessa história sem pé nem cabeça.
Eu entendo mesmo é de pausas, virgulas e reticências.
Eu gostaria de escrever essas coisas sem parecer louca e sem parecer fútil, mesmo que apenas quem vive algo parecido me compreendesse.
Mesmo que esse alguém fosse apenas eu. Ou você. Ou nós dois, quem sabe?
Mas palavras são tão concretas, tão objetivas... Elas dizem demais sobre aquilo que não precisa ser dito.
Me confundem mais do que eu já me confundi nesse texto. E são eternas a partir do momento que as escrevo. Elas me revelam, me denunciam, me espelham, me delatam, me dilatam, me torturam, me aliviam...
Me salvam de mim mesma e dessa luta que eu travo todos os dias, comigo mesma: minha pior inimiga e maior aliada.
Eu vou embora, mas as palavras ficam tentando explicar se isso pode ou não fazer sentido!




"Escrevo como que para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha."
~Clarice Lispector.

Comente com o Facebook:

0 comentários:

Postar um comentário

Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
Expresso pra Dois © Todos os direitos reservados :: Ilustração por Rafaela Melo :: voltar para o topo