1.9.07

Esperando o que?



Eu poderia aproveitar esse tempo sozinha para fazer as malas. Sair procurando pela casa tudo o que fosse meu: roupas, fotos, escova de dente, xampu, cd's, aquele cachorro de pelúcia e aquela caneca de café. Deveria dobrar, guardar, empacotar e ir embora sem deixar respostas ou razões pra você vir me procurar outra vez. Eu deveria aproveitar agora, que você não está olhando pra mim, para me mandar de uma vez, sem deixar rastros dos meus passos. Como naqueles filmes de faroeste, onde um descuido ou um desvio de olhar faz o xerife perder o bandido de vista. Eu deveria sumir na estrada assim: levantando tanta poeira, que você não consiga enxergar onde estou indo.

Eu deveria aproveitar esse tempo livre, pra fazer alguma coisa digna de elogios. Deveria me filiar em alguma ong, fazer algum trabalho voluntário, promover alguma campanha de preservação da natureza, dos animais ou de defesa aos mais necessitados. Mas estou cansada demais pra me levantar do sofá. É... Cansei!

Eu sei que eu poderia ir embora agora, enquanto você se distrai com coisas tão banais, enquanto sua miopia não te deixa enxergar que o problema é você, enquanto você finge que não sabe de nada e que sou eu que reclamo demais.
Eu não tranco a porta depois que você sai, porque eu sei que você volta.
E a tua mão não bate a porta ao sair, porque você já perdeu as chaves e tem medo de ficar trancado.
A verdade é que eu nem sei porque ainda estou aqui. Só não vou embora de uma vez, porque lá fora faz muito frio essa época do ano. E me faltam casacos e luvas pra suportar mais essa estação.

Eu deveria ir embora, mas enquanto está quente aqui, me mantenho aquecida por essa chama já tão fraca, coitada. Eu sei que eu tenho tempo demais, tenho todo tempo do mundo, talvez o problema seja justamente esse: eu não quero mais perder tanto tempo assim. E continuo perdendo, quando acredito em mentiras que já me contaram, quando tento explicar aquilo que não se explica, quando invento palavras que só eu entendo...
O que você não compreende, é que se eu falo tanto e se invento tantas palavras que parecem sem sentido, é só porque as palavras que já existem, não me bastam e não me traduzem.
Eu poderia aproveitar a sua desatenção e ir embora...
Poderia... Mas ainda estou aqui esperando que você me leve!


Só não sei até quando...




d-_-b - Quanto tempo demora um mês?
- Biquini Cavadão

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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