4.3.08

Desde aquele dia...


Eu deveria lembrar, mas não consigo deixar de esquecer. É que eu ando com a cabeça assim, a mil - ainda que o corpo continue em ponto morto. Eu só lembro do que queria esquecer e o que queria esquecer é aquilo que deveria lembrar e não consigo. Ou será que não é nada disso?
Não sei, tenho andado em círculos, tenho falado bobagens e saio por ai cantando aquelas canções detestáveis - aquelas que grudam na cabeça da gente... Mas eu me lembrei daquele dia. Aquele dia com a legenda de "melhor esquecer" e lacre de "não olhe aqui".

Desde aquele dia que eu não sei mais se compro Omo ou Assim, porque não sei quem lava mais branco e também só compro Bombril porque quando vou comprar Assolan, lembro daqueles comerciais medíocres e fico com raiva. Desde aquele dia eu não compro mais Todynho, porque é o Nescau que tem a energia que dá gosto.
E cá entre nós, eu ando precisando de energia.

Eu estava pensando no Harry - no Harry do Herman Hesse.
Não sei porque, mas pensando em você eu acabei me lembrando dele.
Fico com vontade de dizer exatamente o que Herminia disse a ele e jogar na sua cara que você não é louco, mas que tem um jeito estúpido de viver. E entenda por estupidez, o sentido Aurélio da palavra, porque eu não estou nem aí pra ficar criando metáforas bonitinhas que você, muito provavelmente, não vai entender.

Penso no Harry, na Hermínia e em você.
Desde aquele dia, que você foi ficando mais parecido com o tal lobo da estepe. Desde aquele dia, que as horas passaram erradas e os ponteiros ficaram meio atravessados, meio confusos...
Lembrei das palavras... Aquelas palavras mal ditas soaram tão pungentes que me dói relembra-las.
Eu esqueci que eu acreditava nas estrelas dos teus olhos. Talvez eu fosse ingênua demais. Ou talvez, você veio se corrompendo no passar dos dias. E aquele meu cinismo que eu nunca consegui controlar deve ter te conduzido ás ironias que você teima em dizer.
Mas eu não ouço... Juro pra você que eu não ouço.
Ou então, se ouço não registro - e deve ser por isso que eu me esqueço de tantas coisas.

É a tal trava de segurança.
Quando vejo algo que pode me atingir, abstraio.
Simples assim.
Simples como você não consegue ser.
Sabe, você é patético.
Você quer dominar os sentimentos das pessoas e não consegue ao menos controlar os seus.
Você quer manipular, você quer controlar... Mas onde esta o seu controle?
Cadê o chão embaixo dos seus pés?

Desde aquele dia que coisas sem sentido ganharam novas interpretações
E eu falo de você, mas eu também me corrompi. Talvez não no sentido Aurélio da palavra - eu posso criar um sentido mais ameno pro verbo, porque estou falando de mim e não de você.
A vida veio e me deu um empurrão, o destino [sim, ele existe] me apontou na rua e riu da minha cara de boba, porque ele sim, continua brincando comigo.
E o destino, mimado, não sabe a hora de parar - e eu que aprenda a lidar com ele.
Ás vezes parece que o mundo inteiro quer me tragar, me estragar e transformar aquilo que é vida em névoa, sonhos desfeitos...
E cada sonho que eu resonho*, reponho e refaço, aparece um cinismo na minha mania de realidade pra dilatar minha alma
Isso deve ser coisa sua... Deve ter um dedo seu no meu botão de start.
Mas não importa o tanto de areia que joguem na minha fogueira - um dia eu junto tudo, jogo água e construo uma praia.

Sei que você acha que eu ando por ai maquinando planos infalíveis, te vigiando em cada esquina esperando o momento certo pra te atacar.
E eu acho engraçado que você se esconda tanto, sem saber que eu já não te busco!
Creio também, que o mesmo aconteceu com você.
Só falta você se dar conta
Só falta você perceber que aquele comercial de margarina jamais aconteceria nas manhãs de tempestade em que acordávamos.

Somos dois, não somos "nós"...
Nós desatados no porto, navios prontos para partir, mar inteiro pra navegar.

No Ipod, sem querer, a mesma canção daquele dia...
E desde aquele dia eu entendi o que esses versos querem realmente dizer...
Mas é tarde demais.




*Neologismo Carolistico:
Ato ou efeito de re-sonhar,
sonhar novamente...

**Nota de Rodapé:
A Autora deste blog não recebeu
um centavo pelo jabá gratuito

***Um Aviso:
Para todos e especialmente para a Rachel,
que perguntou:
ESSE texto NÃO é sobre minha vida atual!

Estamos muito bem, obrigado!

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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