12.4.08

Saudade Parasita

Eu fico me lembrando das vezes que os teus dedos percorriam as curvas do meu corpo.
E das vezes que eu traçava com a ponta dos dedos os traços do teu rosto, olhando cada detalhe das tuas expressões, como quem precisa te decorar para pintar um quadro.
Lembro das mãos entrelaçadas entre os cabelos, da confusão dos nossos fios, das linhas que tecem esse tecido verde emaranhado nos pelos do teu peito, do teu corpo...
Lembro do horizonte desconexo avistado da janela, do barulho da cidade esquecida lá fora, de um mundo inteiro perdido aqui dentro.
Dos paralelos, da paralexia, dos parangolés e das palmeiras frondosas, de folhas penadas planas...
Lembro bem, éramos sorrisos largos e contagiantes, que contaminavam a todos que por nós passassem.
E como não fosse o bastante, brincávamos feito criança sobre as desventuras do acaso.
Pintávamos o mundo com as nossas cores, colocávamos nossa trilha pra tocar nos bares e restaurantes.
E em cada esquina ou praça que passávamos, ficava a marca dos nossos passos.
Trocávamos as palavras das frases, o sentido das expressões e ríamos de um sentido que só nós entendíamos.
Cúmplices de um mesmo crime, aquele que jamais poderiam nos acusar.
Assim esquecíamos dos momentos tortuosos que nos esperavam com o amanhecer de outro dia.

Eu não consigo me esquecer...
Que enquanto eu chorava nos teus braços e você prendia o choro pra me consolar,
Que eu olhava de relance para o relógio observando o tempo inimigo que não queria mais esperar.
Que enquanto eu olhava no oceano profundo dos teus olhos verdes, percorria pelo meu corpo um pulsar gélido,
De quem sabe e pressente uma tempestade que demora muito pra acabar.
Lembro que cada palavra de despedida proferida por teus lábios, cravou o timbre da tua voz do meu peito, pra que eu jamais esquecesse daquele dia.
E eu que tinha uma porção de coisas pra dizer, não disse nada.
Eu me lembro que eu queria dizer aquele tipo de coisa que não se costuma dizer todos os dias;
Aquele tipo de coisa que não é como dizer 'bom dia' ou 'como vai você',
Mas meu silêncio não me deixa lembrar o que era.

Eu me lembro do chão sumindo embaixo dos meus pés, quando vi teus passos te levando pra longe dos meus.
Lembro-me da mão insensata acenando um adeus e do 'eu te amo' dito por sinais
De longe, quando deveria estar ao lado, ao alcance dos lábios, de um beijo ou de um afago.
Eu fico aqui lembrando e lembrar é o que me resta.
É o que me sobra pra resistir a essa saudade que eu sinto dos nossos recortes colados na parede,
É o que me sustenta pra colorir os dias que amanhecem cinzas, sem tuas cores e tintas,
É o que me abriga quando a noite esfria...

Agora eu não vou nada bem, porque onde eu vou, não é o mesmo lugar onde você vai - pra onde você foi.
E tudo que eu tenho falado por ai, em cartas, textos e folhas rabiscadas,
Não expressam nem um terço de metade do meu desejo.
O grande problema, é que sentir é muito mais fácil do que dizer.
E todas as coisas que eu gostaria de ter dito, não cabiam em palavras.
Eu fico aqui lembrando e lembrar é o que me resta.
E lembrando, alimento essa saudade parasita que se alimenta da tua ausência.

.

A Saudade é um parasita que se alimenta da tua ausência...


d-_-b O Amor é Filme

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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