8.4.08

A Moça na Chuva

Foto: Tumblr

Os pés descalços na grama, a água da chuva escorrendo pelos cabelos, pelos ombros e as lágrimas que rolam pelo rosto.
Quisera que fosse uma redenção.
Quisera, acima de tudo, que seus passos lhe conduzissem pra algum lugar distante, onde pudesse esquecer quem é e de onde veio.
Sobretudo, as coisas que fez.
Esquecer ou ao menos deixar de lembrar
Caminha mais um pouco e encontra uma pedra que não é a mais alta, mas que também não chegava a ser baixa.
De cima da pedra pôde ter uma visão um pouco mais ampla do lugar onde estava
De cima da pedra, tudo pareceu mais claro aos olhos acostumados á escuridão.
Então notou que não enxergava a luz por olhar sempre para baixo, sempre para as próprias pegadas.
Sentou-se na pedra e pela primeira vez, inclinou a cabeça de modo a observar o céu.
Chovia, mas apesar da chuva, o céu estava limpo. E pôde reparar na luz prateada da lua.
Começou a pensar quantas vezes na vida, lembrava-se de ter parado pra observar o céu, pra inventar desenhos nas formas das nuvens, pra contar as ondas lambendo-lhe os pés ou pra observar o nascer ou o pôr do sol.
Concluiu que eram poucas, muito poucas.
Sempre achou que esse tipo de coisa fosse próprio aos poetas e filósofos.
Que olham pro céu buscando respostas ou para o mar buscando inspiração para compor bossa nova.
Pensou que talvez, gostasse de ser uma dessas pessoas.
Esse tipo de gente que sabe admirar as pequenas coisas da vida, a poesia descomplicada dos versos simples.
E talvez gostasse de curtir os pequenos prazeres do dia a dia - aqueles permitidos e também os proibidos.
Mas sabia que precisava, antes de tudo, se encontrar.
Sabe aqueles momentos que você para, pensa e diz: “ok, essa sou eu”?
Essa é você!
E você caminhou descalça sentindo a grama nos seus pés, sentiu a água fria da chuva escorrer pelos seus cabelos, pela sua pele, encharcando a sua roupa.
Essa é você sentada nessa pedra, que não é a mais alta, mas que te deu essa visão quase virgem da lua cheia.
Cheia de pensamentos que você nunca teve antes.
Aprendendo a sentir os pequenos e necessários prazeres e torturas de ser quem você é.
Essa é você...
E quem é você?
*para a moça que eu vi sentada numa pedra, pensando na vida no meio de uma chuva
intensa


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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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