11.11.08

Claustrofobia

Costumava acreditar que aquela sensação das paredes se fechando ao seu redor fosse coisa de filmes. As paredes não estavam de fato se fechando, mas sentia que sim. O ar ficava cada vez mais pesado, o ambiente abafado e as cores opacas. Como se alguém fosse aos poucos diminuindo a iluminação, fechando os balões de oxigênio. Como se alguém trancasse as janelas, apagasse a luz, vedasse a porta e abrisse o gás. O inimigo, aquele que a perseguia, estava ali também. Podia vê-lo claramente por todos os cantos. Ele dava voltas e voltas ao se redor rindo de seu medo. Era a personificação do pavor de estar sozinha, trancada em si mesma. Era claustrofóbico. Desejava enfrentá-lo, enfrentar-se. Queria curar aquela dor que a consumia, mas sentia-se fraca, com falta de ar e muito assustada. Sentia-se culpada por algo que tinha feito, mas não se lembrava do que. Sentia que merecia passar por tudo aquilo, mas não sabia por quê. As paredes se fechavam cada vez mais rápido e o ar estava ficando cada vez mais pesado. Já não consegui a respirar direito, pressão baixa, dor no peito e o que ainda restava de ar, convertido numa respiração ofegante. Precisava sair dali de qualquer jeito. Tentou se levantar, mas as pernas fraquejaram. Olhava em volta com dor e desespero de ver-se encurralada. Teve certeza que morreria e seria devorada pela personificação do seu pavor. Sim, o inimigo continuava ali, rindo alto e fazendo caretas. Sua visão foi escurecendo, sentiu o coração palpitando alto, como se gritasse "faz alguma coisa ou eu vou parar", mas ela não podia fazer nada. Fechou os olhos e adormeceu num desmaio. Quando abriu os olhos novamente, viu um teto branco, paredes pintadas de tons pastéis e um forte cheiro de éter. Todo aquele desespero tinha passado. Não sentia dor. Respirou fundo e sentiu o ar adentrando seus pulmões. Estava em paz. Ao lado de sua cama, um buquê das margaridas que tanto amava, com uma letra que ela conhecia muito bem. Sentiu-se leve. O inimigo não estava mais ali, havia sumido, tinha ido embora... Quiçá para sempre! Quando um homem vestindo um jaleco branco entrou na sala, ela levantou para vê-lo melhor e notou um sorriso em seu rosto. Era bonito, tinha olhos castanhos e cheirava á sabonete. Ele se aproximou e disse em tom suave: "Fique tranqüila, agora está tudo bem". Ela sorriu tranquilamente, pois sabia que era verdade! 
 "Só quem nada contra a correnteza, sabe a força das águas"

*Imagem: We♥It 

Comente com o Facebook:

0 comentários:

Postar um comentário

Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
Expresso pra Dois © Todos os direitos reservados :: Ilustração por Rafaela Melo :: voltar para o topo