"Atras da porta guardo meus sapatos. Na gaveta do armário coloco minhas roupas. Na estante da sala vejo muitos livros. E a geladeira conserva o sabor das refeições. Minha casa é meu reino"
~Biquini Cavadão
~Biquini Cavadão
A mochila está no chão, ao lado da cama. A calça jeans que eu usei hoje e que provavelmente vou usar amanhã pra não sujar outra calça limpa e depois ter que lavar duas, está jogada nos pés da cama. Não esta dobrada. Nunca está né?
Minhas havaianas vermelhas estão em baixo da cadeira em frente o computador e minhas chaves estão jogadas em baixo do monitor.
Eu olho no relógio, mas ainda está cedo pra conectar o msn. Então eu coloco o cd da trilha sonora de Amelie Poulain e fico olhando em volta, pensando nos pequenos prazeres que eu tenho na vida e na organização quase bagunçada da minha vida.
Na parede tem um mural com muitas fotos, tantas que não tem espaço pra nenhuma outra. Já pensei em comprar um mural maior, mas não tenho espaço na parede.
A cama está forrada com o edredom que vou usar pra me cobrir de noite. Sim, faz frio no RJ de vez em quando, e por estar tão acostumada com o calor, qualquer friozinho já me derruba. Ao lado da cama fica minha estante entulhada de cds em ordem alfabética e livros por ordem de tamanho.
Em baixo da cama, dentro de caixas de sapato não tem sapatos, e sim coisas que eu não quero, não preciso ou não costumo mexer. Tem provas de um passado esquecido, agendas antigas, contas e faturas já pagas, umas telas que um amigo pintou durante o colegial e que eu nunca coloquei em molduras, apesar de achar que valeria muito a pena.
Quando você veio aqui fiquei com medo que você pensasse que eu sou louca, que eu não mexia nos cds pra não tirá-los da ordem, que reparasse que as pastas do meu computador são todas organizadas e separadas e os e-books estão em ordem alfabética e por nome de autor.
Você não abriu minhas gavetas e nem mexeu no meu armário, mas se tivesse feito isso verias as blusas separadas por cores. Fiquei pensando que você me acharia ainda mais criança do que eu normalmente demonstro ser, quando visse a quantidade de bichos de pelúcia, bibelôs e brinquedinhos que eu tenho pelo quarto. E fiquei pensando apenas, que você gostaria de se ver nos porta retratos, no meu desktop, na minha agenda...
Você não acha que eu sou louca, apesar de todas as provas que eu te dou de não ser muito normal. Talvez você até pense que pode ser complicado lidar com uma pessoa tão sistemática, mas você não se preocupa com essas manias de organização que eu tenho.
Sabe, quando eu estava na sua casa, fiquei reparando suas estantes de livros. Porque eu reparo nos livros das pessoas quando elas me convidam pra ir em suas casas e acho muito estranho quando não os vejo em algum lugar, mesmo que sejam poucos ou simplesmente didáticos. Eu reparo nos livros que as pessoas tem, no que elas lêem, na maneira como elas os arrumam em casa. Eu fiquei com uma vontade incontrolável de colocar teus livros em ordem de tamanho, de olhar um por um e ver se não tinha mais de um do mesmo autor pra guardar junto, de pegar teus cds e colocar em ordem alfabética também.
Mas aí sim, você me acharia louca.
Eu tenho escrito muito. Escrito coisas que eu não sei se vou publicar neste blog.
Eu escrevo nesse blog por metáforas, principalmente quando falo sobre meus sentimentos, sobre meu jeito, minha vida... Escrevo sempre por metáforas. Fico pensando se as pessoas que lêem acham graça dos meus complexos de Peter Pan, das minhas idéias, meus pequenos dramas e dos meus recados nas entrelinhas.
Eu não te disse esses dias que eu acho que só sei escrever bem quando falo por metáforas?
E eu fiquei rindo quando as pessoas lêem os posts e não entendem lhufas. Geralmente sou eu que não entendo o que as pessoas querem dizer com determinados textos, com determinados contos,, com certas histórias e fico quebrando a cabeça pra encontrar a alguma lógica.
Eu tenho essa mania de tentar entender o que se passa na cabeça dos outros. Não reparou o que eu faço com você? Fico te rodeando com perguntas aleatórias e montando um quebra cabeças pra entender o que você quis dizer, o que andou pensando, como reagiria...
Eu fico pensando na bagunça da minha vida, na quase bagunça da minha casa e fico querendo desvendar o que as pessoas pensam de mim.
Não que eu queira saber a opinião de todo mundo, de pessoas que mal me conhecem, mas de algumas eu gostaria de saber.
Não das pessoas que não sabem o que pensam das outras, nem das que ficariam indecisas, muito menos das que gostam de julgar nossos pequenos defeitos como graves falhas de caráter.
Algumas pessoas me intrigam, instigam minha imaginação e eu fico pensando se seria legal ter o poder de ler suas mentes. Depois desisto da idéia, porque sei que eu ficaria neurótica, querendo ler pensamentos, descobrir segredos e poderia acabar descobrindo coisas que as pessoas pensam sobre mim que eu não gostaria de saber.
E se eu descobrisse que você pensa que eu sou louca?
Na verdade eu não gostaria de ler sua mente não. Eu gosto que você seja a incógnita que é.
A verdade é que eu gosto desse jogo de mistérios que você faz sem querer.
Eu também gosto de tentar entender o que você diz...
O cd da trilha sonora de Amelie Poulain já está acabando e o celular acabou de tocar.
Não atendo, sento no computador e conecto no msn achando melhor continuar com a dúvida, porque o tempo é curto demais pra perder com dúvidas tão bobas!
"É porque trago tudo de fora e minha casa é um espelho.
Onde a noite eu me deito e sonho com as coisas mais loucas, sem saber porque”
~Biquini Cavadão
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