31.8.09

Sobre tudo que você pode fazer...

Ela faz cinema, ela é a tal. Sei que ela pode ser mil mas não existe outra igual [CB]



A partir de hoje você pode tudo! Pode fazer o que quiser, eu simplesmente não vou me importar! Você pode continuar fazendo essa cena ridícula que vou continuar fingindo que não estou vendo. Você pode continuar gritando que vou continuar fingindo que não ouço. Desde pequena minha mãe sempre me diz que quem grita perde a razão. Então se não sou quem está gritando, significa que a razão é minha. Isso me poupa a voz, você deveria tentar de vez em quando. Eu não me importo se você planejou outra coisa sem me consultar. Também não me importo de deixar claro que não sou seu personagem e não tenho a mínima intenção de seguir os seus roteiros. Minha imagem não está presa, escrava das suas lentes. Eu não repito e não decoro suas falas. Você pode bater o lápis no caderno pensando no que vai escrever, pode bater o pé no chão impaciente, pode bater a porta bem forte ao sair que eu não me importo. Você pode desfilar por aí dizendo mentiras a meu respeito, apagando as histórias que escrevi, difamando meu nome – por puro despeito – em nome do seu orgulho. Você pode escrever impropérios, dizer impropérios, publicar um livro inteiro de impropérios e colocar um “dedicado a” com meu nome. Pode colar minha foto em todos os postes da cidade com “wanted” em cima do meu nome e oferecer recompensas a quem me fizer mudar de idéia. Por mim, você pode até ter cólicas e crises dos nervos por ser contrariado. Você pode escrever teses inteiras pra me convencer que estou errada, que eu não vou ler nenhuma linha. Pode enviar canções novas para as rádios, que eu não vou ouvir. Nem cantar. Tampo os ouvidos e “lálálárá”. Você pode esquecer da sua idade e implicar comigo mostrando os presentes legais e caros que você ganhou e eu não. Pode dizer que nunca vai me emprestar, que eu não posso brincar e que estou fora do seu mundinho particular. Pode roubar minhas figurinhas, quebrar meus brinquedos, jogar fora minha coleção de kinder ovo. Você pode continuar com essa cena ridícula de criança mimada que cresce achando que todos são obrigados a fazer as suas vontades, que não sabe ser contrariado, que não sabe ouvir “não”. Pode continuar tentando me vencer pela insistência. Uma hora você acaba percebendo que eu também sou dura na queda e não me dobro tão fácil quanto você gostaria. Vai perceber que posso até demorar pra tomar uma decisão, mas quando decido... mais fácil concordar comigo do que me fazer mudar de idéia. Meu braço é duro, feito de um metal muito difícil de dobrar! Você pode bufar, xingar, ficar vermelho de raiva, inflar até explodir. Até desistir. Até eu não ter mais notícias suas. Até encontrar um outro alguém, que talvez, ceda aos seus caprichos. Eu não ligo! Eu não ligo mesmo! Pode gritar, espernear, pode até me ofender. Pode arranhar meus discos, rasgar meus rascunhos, queimar minhas roupas e estripar aquele cachorrinho de pelúcia que você sempre achou infantil demais para a minha idade.
A partir de hoje você pode fazer tudo, qualquer coisa, menos me convencer que seu ponto de vista é melhor que o meu! Pode fazer o que você quiser, mas a partir de hoje quem atua, produz e dirige o filme da minha vida sou eu.
E você não está cotado nem mesmo para a figuração!



“E enquanto uma chora, outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo cansativo, mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida"

~Quincas Borba - Machado de Assis

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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