20.10.09

I Can't hear you!


Depois de tudo que eu te contei, você vem me falar disso novamente?
Ah não, eu achei que você tinha me compreendido tão bem...
Meus olhos colorem a paisagem para que eu enxergue tudo cinza. As cores o amor levou consigo. Sepulto as borboletas que voavam no meu estômago, uma a uma, já sem lamentar sua morte prematura. Enterro as flores que o amor plantou jogando tanta areia, que nenhum pássaro ou inseto poderia reencontrá-las. Com os pés fincados na areia, meu olhar se perde no horizonte azul, desejando com todas as minhas forças, que aquela estrela que caiu no mar tenha morrido com a queda ou se quebrado em mil pedacinhos.
Não, eu não vou lá procurá-la.

Ora, não me venha falar de tempo!
Que o tempo passa, eu não posso deixar de concordar. Mas duvido dessa mistificação curativa e milagrosa que atribuem a ele. O tempo se esvai, escorre pelas frestas, pelas lacunas dos dias, pelas brechas que abrimos quando deixamos de notá-lo. Tempos de alegria, de tristeza e de saudade? Anham...
A Alegria é arredia. Um descuido mínimo e ela já se foi.
A Tristeza é preguiçosa, aboleta-se na nossa sala de visitas, põe os pés no sofá, fuça nossas panelas e ocupa nossas camas.
A Saudade nos aponta um revólver na cabeça e nos leva tudo o que temos nos bolsos, na alma, na cor dor olhos...
Tempos de esperança? Esperança... Quem é esperança mesmo? Ah, aquela velha imortal e caquética que sempre chega atrasada e fica contando historinhas de ninar? Ah sei, conheço de cor essas histórias pra boi dormir e não acredito em nenhuma delas. A realidade enguiça quando essa velha está por perto e quando ela vai embora, nos vemos reféns de suas mentiras.

E você insiste...
Olha, não sei se ficou claro, mas nada do que você diz faz sentido. Ao menos pra mim.
Acho engraçado que você julgue que depende de mim, o que independe da minha vontade.
Caso contrário, a realidade seria outra.
Se eu piso em falso, é porque o chão não é firme! Será que esse detalhe você não notou?
Se eu não conjugo os verbos que você tenta me ensinar, é porque vivo num tempo verbal diferente. E essas utopias? Ah faça-me o favor...

Agora chove. E você me diz que a chuva limpa as impurezas e remove as tristezas, mas tudo que vejo é uma poça que se forma na estrada da casa e lama escorrendo por todo quintal. É bem capaz que essa chuva desenterre as flores que sepultei, mas duvido que ainda exista vida naqueles caules.
O vento frio sopra palavras que não entendo e vai espalhando sua mensagem branda por cima das casas, entrando por algumas frestas dos telhados, trazendo esse arrepio na minha nuca.

Sabe, eu não acredito em você, mas no fundo gostaria que estivesses certa.
Gostaria de esperar até que você inventasse um nome para cada coisa que eu não sei explicar e me contasse histórias recheadas de sorrisos que eu não sei mais encontrar.
Gostaria de embarcar na tua jangada, navegar sem rumo por esse rio que eu sei muito bem que foi você quem cavou e carregou água em baldes até enchê-lo.


Depois de tudo... ahhhh de novo?
E olha que eu achei que você tinha me compreendido tão bem...

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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