22.4.10

É o meu papel


Parece frase de tradução de música americana, mas a verdade é que eu ainda posso sentir o cheiro do seu corpo na minha pele.
Sempre achei tão improvável que eu poderia ter essas reações bobas de comédias românticas e, no entanto, fiquei aqui, me sentindo a mocinha do filme dos ingressos esgotados. Sabe? Daquele filme que não conseguimos ver juntos porque você não parava de me beijar no cinema. Eu assisti sozinha ontem, enquanto você voltava para a sua casa. Parece roteiro de dramaturgia essa história de ficar aqui pensando em você por sentir o seu cheiro, lembrar de uma bobagem qualquer que você tenha dito ou pensar em como acho bonito o seu sorriso. Aquele assim, meio de lado, sabe? Eu não tenho talento pra ser a mocinha ideal, a protagonista, aquela dos vestidos coloridos e cabelos alinhados. E eu acho que é de alguém como ela que você precisa. Eu tinha pensado um monte de coisas importantes que eu queria te dizer naquele dia. E era tudo muito urgente! Não é novidade nenhuma que eu acabei não dizendo, eu sei disso. Esse é o maior dos meus erros: deixar fluir. Ou como você diz, "deixar rolar". Deixei. Mas acontece que depois eu fiquei aqui, encarando o telefone e tudo que eu queria te dizer, e não disse, voltou a ser urgente.
Eu queria que você compreendesse sem que eu precisasse explicar tanto. Eu queria que você soubesse até que ponto eu iria, se pudesse. O que não é o caso, porque eu realmente não posso. Não é questão de proteção, abrigo ou qualquer outra coisa assim. Não é que eu precise me encontrar ou me perder, porque eu sei exatamente onde estou. E pior, sei quem eu sou. Pra entender e enxergar, você precisa estar centrado, em paz, sereno. Eu precisei de mais do que isso. Aliás, esse também é um problema: eu sempre preciso de mais do que eu tenho ou do que alcanço. E isso não é culpa sua, é minha. Espero que você saiba.
Eu sei que parecia um romance de conto de fadas. Eles sempre têm finais felizes? Ou pelo menos uma bonita lição de moral?
Sendo feliz ou não, espero que ao menos você compreenda a história.
Mas eu pareço aquela personagem da série que repete os mesmo erros a temporada inteira, sabe qual? Então. Eu sou ela fora da tv, sem script decorado nem falas prontas. Sou eu encarando você, sou eu dividida entre falar ou deixar pra lá, sou eu pensando, analisando, balanceando...
Sei que quando você segura a minha mão eu também estou ali querendo segurar a sua. Mas tem uma parte de mim que diz que eu não deveria fazer isso. Não desse modo. Não me segurando em você e deixando você se segurar em mim. Não ouvindo seus segredos e nem te contando os meus. Não sorrindo apenas por te ver chegar.
Eu não sou assim. Eu não sou como as mocinhas do cinema ou da tv. É por isso que eu faço as coisas desse modo, do meu modo!
Essa sou eu, estragando tudo, como sempre.
É esse o meu papel.


*respira

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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