13.4.10

Ruínas


Carol Rodrigues


Eu sinto o cheiro dos problemas que você me trouxe no vento. Eu vejo o negro que você soprou no céu. Eu piso nas rosas vermelhas escalarte que você plantou no meu jardim e volto a escrever entre um curativo e outra atadura. Não vejo a hora nos ponteiros inertes do relógio que você quebrou. O tempo parece não passar e tudo surge ao mesmo tempo. Não, eu não enxergo a solução pro inferno que você trouxe no calcanhar. Mas é nítido todo trabalho que terei em frente. Se eu não queria, porque você foi voltar? Derrete o chumbo do meu coração e desliza pelas veias, transpira em minha pele e evapora no ar. Se eu não ouvia, pra que você foi falar? O timbre sério e seco que umedece minha alma. Transborda pelos olhos, rola pelo rosto até tocar o chão. Não, eu não devia falar, mas as palavras saem da minha boca sem controle e de fugitivas, encontram-te sem que eu possa impedir. Eu não queria saber, mas você fez questão de contar. E me lembro muito bem do espelho que se partiu para não refletir sua imagem. Para ele já não posso perguntar, ainda que saiba a resposta. Eu me engano quando digo que o céu é azul, ele é cinza! E me engano quando penso em você. Não é você que eu vejo, e sim um espectro do que você foi. Eu sinto um cheiro ocre vindo das suas roupas. Ouço uivos dos ventos quando você passa. E na matilha, muitos chamam o seu nome em berros e dizem algo que eu não posso compreender. No calabouço do âmago do meu ser, aprisiono as lembranças que não quero encontrar. E as chaves, joguei no profundo lago do dragão verde. Se eu não responderia, pra que você foi perguntar? Eu respiro bem fundo. E sinto esse ar já respirado entrando nos meus pulmões. Eu tento sobreviver por mais um dia nesse apocalipse diário que você me faz!



Tenso né? Tava nos rascunhos do blog =P

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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