Eu não consigo decorar as minhas falas. Nunca soube como construir um personagem ou dar forma a um roteiro, por mais simples que fosse. Fico tensa com todas essa câmeras voltadas pra mim e acabo olhando fixamente para elas quando tudo que eu deveria fazer, era agir normalmente como se elas não estivessem me filmando. Como se aquele zoom não estivesse enquadrando meu rosto, focando nas minhas ações como se eu fosse fazer ou dizer algo incrível. Eu só deveria dizer o meu texto sem gaguejar ou esquecer palavras. Eu nunca soube como agir naturalmente quando a minha vontade é correr pra casa e me esconder no meu quarto, embaixo da cama e só sair de lá para o colo da minha mãe. Eu sempre fui figurante e não sei como é estar no papel principal desse filme da tua vida. Não sei atuar como protagonista. Eu que sempre passei incógnita por todas as questões, não sei como é ser o X das suas equações. Eu não sei fazer carão e posar pras fotos. Não tenho cara de gente de novela. Eu não sei nem contar piadas, não adianta me dar um microfone e me colocar no palco stand-up da sua vida. Eu não sou engraçada.
A única coisa que eu sei fazer não é nem um pouco louvável. Tenho um talento único em estragar tudo.
Por isso fico por trás das câmeras, nos bastidores, na sala de projeção e nos rascunhos.
Eu sou as orelhas dos teus livros. Sou o epílogo e você prefácio.
Eu não sei dizer o óbvio, meu lugar é nas entrelinhas.
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