6.12.10

Anil


O possível eu já conheço. Quando me abandono na poltrona, com os braços pendendo inertes e a cabeça voando longe, é no impossível que penso. Vez em quando no improvável. Ou no que julgo como tal. Esforço-me para compreender esses paralelos e sinto-me exausta. Exaurida de exércitos de sonhos marchando para fora do meu peito. Para dentro dos meus textos. Para além dos teus olhos e de tua leitura míope. Não me enxergas nas entrelinhas? Será que apenas tu não me percebes? Sinto o peso do esforço de me fazer notar. Nítida como um reflexo no espelho. No seu espelho de moldura redonda. Meus olhos parecem sempre vazios, mas é porque os sonhos já voaram de mim em rota de fuga pra você. E estão sempre a colidir com as suas torres e montanhas. Fazendo pousos de emergência no seu peito. Buscando o portão de desembarque dos teus sentidos.
Fico aqui, em pé, parada em meio à pressa que me corre e me empurra para que viva além do que julgo possível. E parar de ir ou vir e esperar, requer coragem. Que seja então. Te esperar será meu ato mais heróico. Esperar pelo teu vôo, teu destino, teu tempo e tua falta de rumo. Todos somos sem rumo. Acontece, vez ou outra, de nos encontrarmos perdidos por aí. Foi assim que te encontrei. Espero, então, que o teu rumo continue no meu prumo.
Enquanto isso fico aqui, aturdida, dividida, partida ao meio esperando pela sua metade. Aquela que vai me somar. Aguardo tua chega no saguão e carrego um cartaz escrito teu nome. Estou de vermelho. Mas que diabos, todo mundo veste vermelho nessa cidade. Estarei, então, trajada com meus sonhos para que me reconheças ao se reconhecer em mim.

Traga na bagagem teus beijos de anil,
Que esse amor já tem um gosto azul.

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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