Eu não saberia lhe explicar a minha pressa pelas coisas. Todo dia faço minhas malas, mudo de uniforme, visto outra canção, forjo maturidade, me divorcio do amor da vida e me apaixono por quem não conheço. De uma forma ou de outra, estou sempre partindo. E não culpo esse ciclo inevitável e louco das vontades. Não culpo o cigarro, o café e tampouco a programação da madrugada. Minha ansiedade não tem nome. Ainda sou moldura vazia.
Das viagens diárias que faço, comecei a cultivar em mim uma inesgotável saudade do passo seguinte, mesmo que ele seja para trás. E ultimamente, as portas têm se mostrado cada vez mais à sombra de meus calcanhares. É como se eu andasse pra nunca chegar onde sempre almejei. É estranho, admito. Tão estranho que é impossível não buscar o isolamento. As luzes lá fora me desafiam a cada instante e meus olhos não suportam mais o brilho da espada.
Fuga: quem poderia te condenar no meio de tantas correntes?
Por que dizer que fugir não resolve se é fugindo que meu coração pulsa de verdade? É correndo de encontro ao desconhecido que meu sangue ferve e meu rosto cora. É fantasiando o meu destino que consigo transcender a fantasia.
Ontem mesmo, ao ligar a TV, me deparei com um bombardeio de notícias sobre os cada vez menos variados temas: futebol, religião, política, dicas de beleza, dicas de moda, dicas de alimentação, reality show, casamento real e mais dicas: de saúde, de roupas para a estação, de baladas, de leituras... Nada além divagações sobre o grande boteco de esquina do mundo. Nada muda e isso nos traz uma sensação surda de perfumaria.
É por isso que parto diariamente. Há um túnel invisível e em constante movimento entre meu corpo e o instante seguinte. O sonho da semana passada é a obrigação da semana que vem. A massa de modelar da infância é o projeto arquitetônico da vida adulta.
E como nos tornamos cada vez mais chatos e sem brilho! Até quem se julga o espelho da juventude não consegue dar vez ao silêncio para simplesmente apreciar a sabedoria do amigo ou a inocência da criança, sem saber que a ausência delas nos torna seres violentamente insuportáveis. Apenas nós e nossa falta de música.
Sim, nós e nossa falta de música.
Texto do meu amigo, escritor, poeta, músico e companheiro de madrugadas insones no msn, Ithalo Furtado. E nasceu de uma conversa sobre as angústias que nos afligem. Acreditam?
Vocês podem conhecer o trabalho dele no Poesia Diária e agora também no Trama Virtual
Sou suspeita pra falar mais, porque de um cabra que se inspira em bobagens ditas no msn e escreve uma coisa linda dessas...
Só posso mesmo é copiar, colar e mostrar pra todo mundo!
E que não nos falte música! Nem poesia!
Bjos Ithalo!
Adorei, viu?
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