1.4.12

Pra te guardar

99/365 it feels so right now
Foto: Melina Souza
Agora que eu vou embora e tenho que guardar tudo o que deixei espalhado, me pergunto onde vou guardar você. Para que lugares você é grande demais? Para onde é pequeno? No coração não posso te guardar. Você sabe, eu não seria um bom hospedeiro. As coisas aqui dentro andam sempre confusas, tumultuadas e eu tenho medo que você se quebre. Você estraga? Fico com medo de te guardar e você pegar mofo, ser comido por traças... Essas coisas que acontecem com as coisas que guardamos por muito tempo. É que eu vou demorar a voltar. Já tinha contado? Você já se desfez daquela sua cara de pau que eu tanto gosto? Tenho medo de você pegar cupim. Pensei em todos os lugares lindos que conheci e que te serviriam de morada. Aquele bangalô na praia paradisíaca. A cabana no campo ou a barraca no camping. Quem sabe aquela cidadezinha histórica, no interior? Não... Nada disso. Acho que vou te guardar dentro da cena daquele filme. Aquele que eu tanto amo, sabe? Poderia também te guardar na minha estante, no meio dos meus livros. Poderia te guardar naquela caixinha onde guardo os ingressos dos shows mais incríveis que eu já fui. Ou no meio das músicas que eu mais escuto. Você poderia morar dentro do meu armário ou embaixo do meu travesseiro. Mas eu queria te guardar no melhor lugar do mundo. No lugar mais confortável para você viver. Acho que vou te guardar dentro de um abraço. Assim, bem gostoso, bem Malwee. É isso, está decidido aonde vou te guardar. O abraço é o melhor lugar do mundo. É o mundo de um recém-nascido. É para onde as crianças correm quando caem e se machucam. Pra onde corremos quando temos medo do escuro, do futuro ou do bicho-papão. É o que as mulheres anseiam pra dormir em paz. É o que os idosos esperam da família a quem se dedicaram por tantos anos. É o que o corredor espera na linha de chegada. É pra onde o jogador corre depois que a torcida grita "gol". Vou te guardar dentro de um abraço quente, seguro e confortável. Um abraço que te cegue e te ensurdeça com minha presença quando eu não estiver aqui. Um abraço que faça soar a minha voz, quando tudo que restar for o tic tac dos relógios. O abraço é capaz de confortar, de consolar, de celebrar, de despedir ou de cumprimentar. Estou convencida que um abraço pode quase tudo. Acho que o abraço é o melhor e mais aconchegante lugar do mundo. É lá que eu vou te guardar. Dentro de um abraço que nos caiba. Dentro de um abraço que nos baste.

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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