19.9.14

Resenha: Um Dia (David Nicholls)

Eu sei que esse livro não é novidade para vocês, mas como falei no post do Book Haul que estava lendo ele e me pediram pra falar sobre: cá estou.


Um dia - David Nicholls

A história começa no clássico formato garoto-encontra-garota. Emma Morley e Dexter Mayhew se conheceram exatamente no dia da festa de formatura da universidade. 15 de Julho (guarde essa data).
Dois jovens formandos que se apaixonam - não é uma história incomum, certo?
No dia seguinte, cada um vai seguir seu caminho e eles tem planos bem diferentes.
Quando Emma e Dexter se conhecem e se aproximam, ficam juntos (não como você está ai pensando) e rola um feeling. Eles conversam sobre o futuro, fazem planos, ficam amigos e decidem manter contato. Sem pretensões românticas.
A partir daí, cada um toca sua vida seguindo os próprios planos ou planos completamente diferentes. Ou com a total falta de planejamento. São de mundos completamente diferentes.
Porém, Emma e Dexter ficam amigos mesmo. Eles conseguem manter uma bela e tumultuada relação ao longo dos anos.
Fica claro para o leitor, que Emma perde muito tempo tentando abstrair de seus reais sentimentos por Dexter, tentando encarar a relação que tem com ele como apenas amizade.  Pelo menos esse era o plano. Eu queria dar um tapinha nas costas da Emma e comentar: Well, agora você já sabe que garotas também vão para a friendzone.


O livro é escrito narrando os acontecimentos do dia 15 de Julho. Um por ano. Por vinte anos. 
É meio confuso no começo, mas lembre-se de observar a mudança dos anos na data (eu avisei para guardar a data).
Dexter e Emma passam por decepções, fracassos profissionais, escolhas erradas, relacionamentos fracassados, brigas e uma coleção imensa de oportunidades perdidas. 

Dexter é um cara charmoso, mas egocêntrico e mimado que não possui traquejo social. Sabe aquele cara que abre a boca e destrói a auto-estima de alguém? É ele. Vive cercado de mulheres, bebidas e total ausência de regras. Sua conduta é, muitas das vezes, detestável. E lamentável.
Emma é uma moça inteligente, divertida, neurótica (quem não é?) que tem a auto-estima nível zero e aquele tipo de humor mantido com piadas auto-depreciativas que ela insiste em contar.
Ela é batalhadora, pé no chão e um tanto tediosa. Digo, ela gosta de discutir política, não se diverte e trabalha em um sub-emprego que odeia.
O livro vai descrevendo as mudanças nas vidas deles, intercalando as histórias, ampliando a percepção do leitor sobre eles.
Passei boa parte do livro odiando os dois, pensando em quanto eram dois babacas fazendo absolutamente tudo errado. "Caramba, dois losers!". Em um momento começava a torcer por um ou por outro, no momento seguinte estava lamentando a idiotice de um ou outro. Ou de ambos.


Lendo Um Dia, você se dá conta de o quanto as pessoas são (elas mesmas) o obstáculo para realizarem seus desejos. Clarice disse: "Existe um grande, o maior obstáculo para eu ir adiante: eu mesma. Tenho sido a maior dificuldade no meu caminho. É com enorme esforço que consigo me sobrepor a mim mesma.". Acho que Emma leu Clarice, mas não percebeu que fazia o mesmo.
O sucesso entre os leitores? Acredito que venha por identificação. Dexter e Emma são personagens bem reais, são pessoas que você pode muito bem conhecer. 
Quem não conhece aquele cara charmoso que só quer saber de mulher, viagens, bebidas e diversão? Quem não conhece uma moça bonita e talentosa que não enxerga potencial em si mesma e vive se auto-sabotando?
Além do mais: Relacionamentos complicados, quem nunca?
"Acho que você gosta de se sentir frustrada e ter menos do que queria ter, porque isso é mais fácil, não é? O fracasso e a infelicidade são mais fáceis porque você pode fazer piada com isso." 
Um Dia não pretende ser - e não é - apenas um romance. Ele mostra a vida se moldando a partir das escolhas, nem sempre boas, dos personagens. O que fica não dito, ou subentendido, é aquela velha sensação do "e se" que nós costumamos ter.
O fato da narrativa incomum também me chamou atenção. Ao invés de uma narrativa contínua, narrar os acontecimentos em um dia específico ao longo de 20 anos é uma forma peculiar e bem elaborada. E embora falando assim pareça que é algo perdido, não é. A história parece bem amarrada e coesa.
O romance foi bastante aclamado pela crítica e considerado fenômeno literário no Reino Unido.
Talvez por isso tenha demorado tanto a ler. Gosto de esperar a comoção passar, livros "da moda" costumam me irritar.
Acredito que esse livro divida opiniões justamente pela relação de amor-ódio que desenvolvemos durante a leitura. Em determinados momentos, você pode achá-lo extremamente deprimente (eu achei) e em outras bastante divertido. Dependendo do seu estado de espírito, pode ser um pouco perturbador também.

Um Dia, no entanto, não é um livro para qualquer pessoa. Muitas vezes ele pode ser aquele tapa sem mão que você não estava esperando levar.
Quer dizer, você começa o livro torcendo para que Dexter e Emma fiquem logo juntos, como em qualquer romance. Mas entre o primeiro e o último capítulo acontece uma coisa muito chata: vida real. E como vocês sabem: Life sucks!


Para concluir meu raciocínio sobre o livro: enquanto espera que os personagens tenham seu final feliz, o leitor tem que lidar com os erros e acertos dos personagens. Frequentemente, vê o final feliz ser adiado, ser rechaçado, ficar impossível e mais uma vez tangível. No desenrolar da história, a expectativa pelo final feliz fica cada vez maior. Eu não posso fazer um spoiler, mas a minha implicância com o livro está diretamente relacionada a isso.  
Um Dia poderia ser a vida de qualquer um de nós. De qualquer um que faz suas burradas, que se apaixona por alguém impossível, que vê uma grande paixão se tornar amizade e que percebe que precisa tomar um rumo na vida. 
Eu ia dizer que não é uma história de amor, mas na verdade é sim. É uma história de amor, mas não é um romance romântico. Eis o que me incomodou, é insuportavelmente real.
Não é exatamente como se eu não tivesse gostado do livro, mas eu esperava outro tipo de final.
Porém, estamos falando de um romance-da-vida-real, né? Discutindo sobre o livro, me mandaram sair da Wonderland (vlw, flws).

Classificação: 4 Capuccininhos

O Filme

Eu esperei terminar de ler o livro para ver o filme. 
Como já sabia que Emma e Dexter foram interpretados pela  Andy Sachs Anne Hathaway (linda) e pelo Jude Feeny Jim Sturgess (lindo), durante toda leitura só visualizei o rosto deles. rs
Eis o problema das adaptações, mas eu tenho essa neura eterna de ler o livro primeiro. Como dizem, sigo o mantra do "sabia que o livro é melhor?".
Na adaptação cinematográfica de Um Dia, o próprio David Nicholls foi roteirista. Sendo assim, podemos dizer que é um filme fiel ao livro - coisa rara heim?
Claro que faltaram alguns detalhes, algumas cenas que eu (e quem leu) gostaria de ver, mas nada que prejudique a obra.
O cenário ajuda muito a gostar do filme: foi filmado em Edimburgo, Londres, Inglaterra, Paris....
Enfim, fiquem com o trailler e se tiverem preguiça de ler o livro, assistam porque Anne e Jim como Emma e Dexter fazem valer a pena ♥




Ps: Notaram que o Expresso pra Dois agora é .com? YAY *-*
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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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