28.7.07

Quebrando o Silêncio...


"Foi por medo de avião, que eu segurei pela primeira vez a sua mão"

Eu não ia falar sobre isso, porque não gosto de ser como todo mundo e como todo mundo está falando disso, eu tinha dito que não ia falar - porém, contudo, todavia, entretanto, não obstante...
Cá estou!

O Carlos me mandou um e-mail com dados de acidentes da Tam, com uma série de erros e números assustadores.
E eu fiquei, sinceramente, pensando se poderia dizer algo que já não tivesse sido dito.
Acho que não posso! Acho que ninguém pode. Nem mesmo os que disseram ter previsto ou a velha história do "eu te disse, eu te disse, eu não disse, eu disse"...

Por aí estão falando demais em "tragédia anunciada", "previsões de videntes", "crise aérea", "caos nos aeroportos"...
Não tem um dia que a gente ligue a tv e não veja passageiro reclamando de vôo atrasado, passageiro implorando pra viajar como se ele não tivesse pago para isso, como se fosse um favor que as companhias aéreas estivessem lhe prestando.
Eu só acho, sinceramente, que não tem necessidade das emissoras ficarem o tempo todo se aproveitando da dor dos familiares das vítimas para baterem metas de ibope.
Me respondam: precisava mesmo daquelas câmeras em cima dos familiares quando leram a lista de passageiros?
Haja apelação! Um pouco de respeito, por favor!

A gente assiste de longe, fica indignado, com medo e com a certeza que não tem a dimensão da revolta das pessoas, que a nossa revolta não chega nem perto da revolta delas, mesmo porque, enquanto elas estão na tv reclamando e nos mostrando o sufoco que estão passando, nós estamos em nossas casas, muitas vezes com a bunda colada no sofá sem fazer nada.

De quem é o problema? O problema não é de ninguém!
Não é assim que todo mundo, no fundo, pensa?
Não achem que é estupidez minha dizer isso, é esse um dos motivos do nosso país não ir pra frente.
Ninguém nunca acha que é responsável por nada, todo mundo tira o corpo fora, não é da alçada de ninguém... Isso é comum das pessoas!

Agora, acho uma visão muito romântica essa de "vamos no unir e fazer alguma coisa" - fazer o que? Vestir preto e protestar, fazer passeata, deitar na pista do aeroporto pros aviões não pousarem, acabar preso por baderna?
Desculpem a frieza, mas eu acho que nada disso adianta.
O que tem que mudar, antes de qualquer coisa, é a cabeça das pessoas. E vocês devem saber como isso é difícil...
Porque essa história de "não é comigo" já ta batida há tempos.
Acordem!

Desculpem a frieza mais uma vez, mas eu fico me perguntando quantos aviões terão que cair, quantos navios terão que afundar, quantos ônibus terão que ser queimados, quantas mães de Joãos Hélios veremos chorando na tv, até que alguma coisa comece a mudar nesse pais.
A exemplo do que aconteceu no caso do João Helio, até que aconteça uma outra tragédia que deixe a população atônita, todos já terão esquecido o que aconteceu.

E no mais, algum politicuzinho oportunista, vai aproveitar para aparecer e criar algum projeto de lei idiota [que não vai se aplicar a nada] pra passar um atestado de "estar fazendo alguma coisa" no calor da emoção, pressionado pela "comoção" da tragédia e pela pressão da opinião pública!


Até quando vamos celebrar a estupidez humana com festa, velório e caixão?


Eu não vou entrar no assunto do descaso do governo ao liberar uma pista que não tinha condições de funcionar, principalmente com a demanda de vôos no aeroporto, porque eu acho que isso já excede qualquer comentário.
Até quando vamos eleger essas "otoridades" que não tem autoridade nem pra zelar pela segurança das pessoas?
Quem merece isso??? A ganância de alguns tira a vida de muitos!


A gente fica pensando sobre o assunto e acaba caindo na política, né?
Eu não falo de política em meus blogs - há quem goste - porque acho que tem um zilhão de assuntos mais agradáveis para tratar e eu não gosto de mexer nessa sujeira.
Sim, política é uma coisa imunda!!!
Não gosto dos defensores políticos, não discuto política e nem entendo muito do assunto também.
Mas não precisa ser nenhum expert no assunto, pra ver que as coisas vão de mal a pior.
Sim, porque, eu não estou escrevendo esse texto para culpar os passageiros que não tinham nada que estar naquele vôo, ou os parentes que não os impediram de viajar, nem ao prédio da Tam que estava na "rota do avião", esse ônus cabe ás autoridades in-competentes que nada fazem nesse cenário notavelmente em crise que é o setor de aviação nesse país! [ingenuidade... como se fizessem algo em outros cenários]

A minha revolta, não é só pelas vítimas do acidente da Tam, é também pelas vitimas do acidente da Gol, pelas vítimas do tráfico, pelos mortos em confrontos de traficantes com a policia, pelos mortos em assaltos no sinal de trânsito, pela miséria e pela fome que assola grande parte da nação...
É tudo parte de um todo, tudo cabe na mesma revolta.
Porque agora só se fala do acidente da Tam, mas o buraco é bem mais embaixo. [lembram do buraco do metrô?]

Eu ainda quero acreditar que tem jeito...

Analisado o presente e temendo pelo futuro, eu só peço a Deus [porque só Ele mesmo] para que no futuro onde eu pretendo criar os meus filhos, as pessoas tenham liberdade de ir e vir em segurança.
Seja de carro, de trem, ônibus, metrô, avião, barco, a pé, por teletransporte...
Seja lá o que for, mas que as pessoas possam sair e voltar para suas casas em paz, com saúde, vivas...


Será pedir demais?




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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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