19.10.07

AutoBiografia

-Poxa, você deveria escrever um livro!
-Eu? Cê tá brincando?
-Claro que não!
-Pra mim não está tão claro assim. É você que deveria escrever um livro, Carol!
-Ahhh, eu não tenho talento...
-Tá brincando? Eu 'te leio', claro que você tem talento!
-Não, talento eu não tenho mesmo não. Mas se você quiser um 'serenata de amor' eu posso te dar um!
-...


Talvez não seja exatamente falta de talento, mas de assunto. Talvez as pessoas gostem do que a menina escreve, mas talvez falte algum detalhe para que ela possa se tornar uma escritora. Se ela escrevesse um livro, talvez nem mesmo o namorado comprasse...
Ás vezes ela pensa: escrever o que? Escrever um livro do que se escreve em um blog? Não é uma coisa que faça muito sentido.
Talvez escrevesse sobre a menina que subia em árvores e colecionava cicatrizes.
Ou então, contaria a inacreditável história de como ganhou aquela cicatriz em forma de lua no ombro e de quantas vezes quebrou a perna e o braço.
Falaria dos sonhos que tinha e que não tem mais, do gosto da comida da avó, das broncas da mãe e das brigas com o irmão.
Talvez contasse a história do dia que encontrou a cadelinha perdida pela rua ou de como ganhou aquele filhote de pastor alemão. Falaria de como gatos e cachorros conviviam bem em sua casa e ainda riria lembrando que a cadelinha tinha medo da caixinha de música que tinha uma bailarina dançando na tampa.
Choraria lembrando a tristeza de quando a gatinha morreu, de quando o gatinho sumiu, de quando teve que dar as cadelas para outra pessoa cuidar quando teve que se mudar pra casa pequena e sem quintal.
Lembraria com saudade dos tempos de correr pela rua, de jogar bolinha de gude, de ser a criança mais temida da rua porque batia em todo mundo.
Mas lhe ocorreu que essas histórias de criança travessa, só interessavam a ela e a sua mãe.
Pensava nas histórias da escola, de quando cursou o ensino médio, dos amigos, das armações... Talvez escrevesse a trajetória da quase atleta que foi e contasse porque decidiu largar a natação depois de sete anos de prática.
Talvez falasse sobre aquelas amizades indestrutíveis que viraram ruínas...
Talvez não faltassem assuntos e sim um meio de torná-los mais interessantes.
Já havia pensando em escrever um romance, não um dos seus romances, porque não tinha nenhuma história suficientemente boa que merecesse ser contada em um livro. Seus romances, todos, não haviam tido um final feliz. Nem mesmo o atual não passava por uma boa fase. Não contaria dos tropeços mais sérios nem das coisas ruins que já fez. Não contaria das mentiras que contou, das pessoas que enganou e nem de nada que a envergonhasse. Mas falaria do primeiro porre, porque, aquilo sim seria uma história hilária. Contaria suas histórias de noitadas, dos shows de rock que já foi e das músicas e artistas que gosta de ouvir. Contaria de todas as coisas boas que aprendeu e que pode ensinar, da boa vontade que tem com algumas pessoas, da preguiça que a domina quase sempre...
Explicaria o que é e como é ser hiperativa [thda], e não conseguir ficar parada.
Explicaria que a falta de memória para datas, compromissos e horários não é proposital.
E riria ao ver que é menos normal do que acha que é!
Falaria até do primeiro beijo, do primeiro namorado, da primeira vez... Falaria sobre como a relação em família amadureceu quando ela deixou de ser a ovelha negra da família. Da gratidão e do amor que sente pela mãe e pela avó e de toda a dedicação com que elas lhe criaram na ausência do pai falecido quando ela ainda era bebe. Falaria das brigas faraônicas com o namorado e de como eles se odeiam e se amam. Falaria de todos os seus defeitos e talvez não se lembrasse de falar das qualidades, porque por ser realista, sabia muito bem onde sua personalidade apertava nos calos e sapatos alheios.
E todo mundo descobriria o quanto ela é difícil e fácil de lidar ao mesmo tempo. Todos saberiam que ela não é tão forte quanto parece, que tem dúvidas, anseios, ambições e desejos. Todos saberiam da responsabilidade que tem com os sentimentos das pessoas com quem se importa, de como deseja ser mãe e de como gostaria de ser e não consegue.
Veriam que é muito mais menina do que mulher, e muito mais mulher do que ela mesma pensa que é.
Mas pensaria seriamente se tudo isso seria bom pra escrever em um livro e resolveria escrever em um blog mesmo.
Afinal, se algum dia encontrasse uma boa história, haveria de escrever um bom livro...



-Engraçadinha! Tô falando de escrever um livro e não de chocolate!
-...
-Você deveria tentar escrever o tal livro! Pensa nisso!
-É... quem sabe um dia eu escreva um livro...

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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