De tanto eu reclamar da Vida, ela veio reclamar de mim.
Veio cheia de si e me esbofeteou a cara em cheio.
E irritadíssima, cobrou os louros do tanto que lhe fui ingrata, reclamando em vão, desmerecendo seus grandes feitos.
Acusou-me de não saber vivê-la do melhor modo. Eu que sempre julguei que a compreendia, que sempre me vangloriei de fazer dela o que quisesse. Justo eu, que sempre imaginei que sabia como cantá-la nas canções.
Ela me mostrou as vezes que eu reclamei dos meus planos que ela frustrou e de onde eu cheguei por conta disso. "Foi melhor assim, não foi?" - dizia com certo rancor.
Me fez repensar cada pedra que eu pisei e dos cacos de vidro que ela evitou que cortassem meus pés.
Ela que se desdobra em mil pra satisfazer minhas vontades e vive a confabular com o universo pra realizar os meus sonhos.
Ela que sonda meus desejos e vontades mais íntimas e faz o possível pra concretizar.
Questionou se eu queria trocar de lugar, pra que ela vivesse a minha Vida e a ouvisse reclamar de tudo que eu fizesse.
Sim, eu precisava levar uma sova da Vida pra aprender.
Precisava aquele nó na garganta, aquele frio na espinha, aquela falta de ar...
Quando a Vida veio reclamar do meu modo de encara-lá, foi que eu notei a sutileza de coisas que não se vê
Reparei nas palavras que nunca me disseram, mas que mesmo assim eu ouvi.
Percebi as mãos que sempre me ajudaram a recolher meus cacos, a montar meus mosaicos e pintar de azul o meu céu.
Reconheci os rostos que sempre me sorriam - mesmo quando eu estava chorando
E descobri onde estava o caminho dessa estrada bagunçada que eu mesma construí.
Desculpei-me com a Vida e propus uma trégua!
Estou compondo uma bossa nova, que na verdade não tem nada de nova!
É velha, mas é renovada. E é sobre ela - a Vida!
Quem sabe assim, ela se sente maia amada...
*deu saudade de escrever pseudo-crônicas
**nos vemos depois do carnaval [ou não]
**nos vemos depois do carnaval [ou não]
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