13.5.08

Drogas

Drogas. Quem não gosta? Eu me amarro. Neste exato minuto, agora, agorinha, eu tô me enchendo de café. Depois do almoço vem aquela moleza, aquela vontade de não ter vontade nenhuma, de dormir, de se sentar à sombra da primeira árvore que aparecer, deixar a aba do boné sobre o rosto ou encobrir o rosto todo com o gorro e dormir. Falando em dormir, uma observação é necessária: há uma diferença entre "ir dormir" e "adormecer". É melhor adormecer do que dormir. Ir dormir soa muito ativo, muito trabalho, sabe? Já adormecer é diferente. Adormecer é deixar-se ir, é sucumbir à força implacável do cruel estômago cheio e pesado, que tortura você com uma contínua, silenciosa e bovina vontade de cair no chão, à sombra do pé-de-árvore, e padecer de um sono com cara de pseudo-coma pós-feijoada. Isso é adormecer. E isso, sim, é que é bom. Adormecer não é perceber que está quase dormindo, é acordar e pensar "caraca, dormi como uma pedra". Quem adormece não sente que caiu no sono, quem adormece percebe, quando acorda, que se entregou a uma força irresistível e incontrolável, uma coisa grande e sadia chamada sono, o verdadeiro sono, aquele sono que recarrega, revitaliza, restaura, revigora. Mas voltemos a falar de drogas. Quando dormir não é possível, eis que a solução são as drogas. Na verdade, uma só droga resolve. cafeína. Aquele momento pré-adormecimento, aquele momento em que a gente se sente um ruminante, que nosso corpo está assim, lento e pesado, mas nos é vedado o prazer de deixar o corpo comandar tudo e se entregar de vez aos desejos dessas pálpebras pesadas que teimam em tapar nossa visão, enfim, neste momento é que a cafeína entra em cena e todo o ritual de encher a xícara, jogar açúcar, pegar a colherzinha e mexer circularmente, ouvindo a música que cada batidinha da colher no interior xícara faz, acompanhada por aquele cheiro de inebriante do café, que vem dançando com a fumaça em coreografias improvisadas, enfim, todo o ritual de preparação dá início a uma nova onda, bem diferente daquela que sentimos antes, a do sono. Agora as coisas mudam. Agora o café esquenta os lábios, a língua e todo o interior da boca, queima só um pouquinho a garganta e aquece o corpo todo, começando, assim, a afastar aquela moleza pós-almoço. Depois é a vez da cabeça! De repente, aquela sensação de leveza mental que acompanha e compensa a sensação de corpo pesado é substituída por uma firmeza da mente que se manifesta na própria maneira de olhar o mundo em volta: se antes as pálpebras insistem em deitar e cobrir nossa visão, agora elas se mantêm firmes, rijas, acompanhadas pelas sobrancelhas, que se encostam um pouco mais uma da outra, compondo o cenho do qual o olhar alerta é a maior expressão. O corpo se sente preparado para correr a qualquer minuto e os pulmões inflam.



Um texto fantástico e um pouco antigo do meu amigo Guilherme Montana, que eu reli esses dias pelo feed, roubei sem autorização e postei aqui no blog como se fosse uma intervenção dele mesmo, porque o texto tem tudo a ver comigo e com esse blog!


Ahhh, Gui. Feliz niver atrasado =o)



Apropriações sem autorização:
-Cuidado, você pode ser o próximo!

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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