30.11.08

Amor em Minúscula - Francesc Miralles

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"— Faltam muitas palavras a inventar. Por que existe o termo "órfão", aplicado a uma criança que perde sua mãe, e não existe termo para a mãe que perde seu filho? Será porque sofre menos?
— Você tem razão. Agora que estou pensando nisso, tenho um significado à procura de uma palavra: amor em minúscula.
— Amor em minúscula?
— Sim, talvez seja a única descoberta de que tenho orgulho — disse exaltado. — Uma pessoa faz um pequeno gesto bondoso e isso desata uma cadeia de acontecimentos que lhe devolvem um amor multiplicado. Ao final, embora você queira voltar ao ponto de partida, não é mais possível, porque o amor em minúscula apagou qualquer caminho de volta ao que existira antes.
— Isso que você diz é bonito, embora não consiga entender.
— Nem eu próprio entendo. Mas a prova disso é que estamos aqui."


No trecho acima, os personagens se questionam sobre a necessidade de inventar novas palavras para certos significados e para coisas que não se explicam. Eu andei procurando palavras que explicassem os significados que só eu parecia entender e gostei de saber que não era a única a fazer esse tipo de coisa.
Acho que eu nunca tinha ouvido falar nesse espanhol, Francesc Miralles e acabei descobrindo que ele já escreveu diversos livros, os quais pretendo fuxicar depois.

"Amor em Minúscula" foi o mais conhecido no Brasil, ficando entre os mais vendidos - e foi isso que me fez comprá-lo.
Este é mais um caso de um livro que me ganhou pela capa. Eu que adoro gatos (e só não crio um porque minha mãe não deixa - a casa é dela) peguei o livro pra ver por causa do gatinho na capa. Lendo o prefácio* em si, achei que talvez fosse uma historinha tosca, mas como estava na prateleira dos mais vendidos (livros da moda) fiquei com vontade de ler - já estava morrendo de vontade de ler alguma coisa, mesmo.
Então comecei a ler o livro.

Gatos são animais interessantes e ninguém passa imune por eles.
"Diz-se que os gatos são egoístas, quando, na realidade, são simplesmente espertos. Não vêm a você se podem fazer com que você vá a eles" - Trecho do livro.

O que dirá então Samuel, personagem principal do livro, que vê sua casa e sua invadida por um bichano? Ao tentar se livrar do gatinho e depois ao resolver adotá-lo (ou ser adotado pelo gato - bem sabemos que são eles quem nos escolhem), sua vida passa por uma série de acontecimentos, abalando sua rotina monótona de professor de filosofia alemã.
Dizem por aí que toda ação gera uma reação, não é mesmo?
A partir do encontro com o felino, Samuel percebe que cada pequeno gesto, pode ter um grande resultado. Aqui entramos naquela questão do filme Efeito Borboleta, que tudo que fazemos tem uma consequência boa ou ruim. Aquela questão que o movimento das asas de uma borboleta pode gerar um furacão em outro ponto do universo.
O encontro com o gato leva a um encontro com um vizinho, que o leva ao encontro de um grande amor de infância, que o leva ao encontro de um estranho que estuda sobre a lua, que o leva ao encontro de um tipo suspeito num bar, que o leva...
Samuel conhece pessoas interessantes com quem aprende valiosas lições e é a partir daí, que ele se dá conta de como funciona o "Amor em Minúscula" e de como ele influencia a sua vida.

A mensagem que ficou, foi a mesma que tive com outras leituras e com algumas músicas, como por exemplo "Prato do Dia" do Teatro Mágico, que nos convida a enxergar a poesia simples do dia-a-dia.
O livro nos leva a reflexão de que um simples detalhe, um mínimo ato de bondade um "Amor em Minúscula", pode causar a transformação de uma vida.
Não esperem nada de complexo, o livro é simples, singelo e de texto simples. Sem grandes pretenções, trata-se de visualizar que nosso futuro depende coisas simples que fazemos no dia-a-dia, de mínimos atos, como o de alimentar um gato...



Ps: Agora eu quero um gato pra chamar de Mishima também =P



O Livro:

Livro: Amor em Minúscula
Autor: Francesc Miralles
Tradução: Luís Carlos Cabral
Editora: Record
Site oficial: http://www.record.com.br/amoremminuscula/


Dicas:

Digitando "Francesc Miralles" no Youtube, da pra encontrar dois vídeos dublados com o autor falando sobre o livro.
Pode baixar aqui: Amor em Minúscula - Francesc Miralles
E também pode saber mais na Comunidade do Orkut





"— Para encontrar, você deve se deixar levar. Enquanto mantiver idéias preconcebidas, será incapaz de ver o que acontece diante do seu nariz."

11.11.08

Claustrofobia

Costumava acreditar que aquela sensação das paredes se fechando ao seu redor fosse coisa de filmes. As paredes não estavam de fato se fechando, mas sentia que sim. O ar ficava cada vez mais pesado, o ambiente abafado e as cores opacas. Como se alguém fosse aos poucos diminuindo a iluminação, fechando os balões de oxigênio. Como se alguém trancasse as janelas, apagasse a luz, vedasse a porta e abrisse o gás. O inimigo, aquele que a perseguia, estava ali também. Podia vê-lo claramente por todos os cantos. Ele dava voltas e voltas ao se redor rindo de seu medo. Era a personificação do pavor de estar sozinha, trancada em si mesma. Era claustrofóbico. Desejava enfrentá-lo, enfrentar-se. Queria curar aquela dor que a consumia, mas sentia-se fraca, com falta de ar e muito assustada. Sentia-se culpada por algo que tinha feito, mas não se lembrava do que. Sentia que merecia passar por tudo aquilo, mas não sabia por quê. As paredes se fechavam cada vez mais rápido e o ar estava ficando cada vez mais pesado. Já não consegui a respirar direito, pressão baixa, dor no peito e o que ainda restava de ar, convertido numa respiração ofegante. Precisava sair dali de qualquer jeito. Tentou se levantar, mas as pernas fraquejaram. Olhava em volta com dor e desespero de ver-se encurralada. Teve certeza que morreria e seria devorada pela personificação do seu pavor. Sim, o inimigo continuava ali, rindo alto e fazendo caretas. Sua visão foi escurecendo, sentiu o coração palpitando alto, como se gritasse "faz alguma coisa ou eu vou parar", mas ela não podia fazer nada. Fechou os olhos e adormeceu num desmaio. Quando abriu os olhos novamente, viu um teto branco, paredes pintadas de tons pastéis e um forte cheiro de éter. Todo aquele desespero tinha passado. Não sentia dor. Respirou fundo e sentiu o ar adentrando seus pulmões. Estava em paz. Ao lado de sua cama, um buquê das margaridas que tanto amava, com uma letra que ela conhecia muito bem. Sentiu-se leve. O inimigo não estava mais ali, havia sumido, tinha ido embora... Quiçá para sempre! Quando um homem vestindo um jaleco branco entrou na sala, ela levantou para vê-lo melhor e notou um sorriso em seu rosto. Era bonito, tinha olhos castanhos e cheirava á sabonete. Ele se aproximou e disse em tom suave: "Fique tranqüila, agora está tudo bem". Ela sorriu tranquilamente, pois sabia que era verdade! 
 "Só quem nada contra a correnteza, sabe a força das águas"

*Imagem: We♥It 

5.11.08

A Tal Verdade que Dói...


"Não desejamos mal a quase ninguém"

Sabe... Estou quase desistindo dessa frase do Lulu e te desejando todo mal do mundo.
Mas isso se eu fosse igual a você. Pra sua sorte (e minha, principalmente) eu não sou!
Quando digo que a inveja é a motivação dos medíocres, não estou mentindo! Infelizmente, tenho cada vez mais provas que estou certa naquilo que penso.

Olha aqui, não tenho nenhum motivo de ser invejada por você. Não sou mais bonita e nem mais feia que você. Não tenho carro e grana e nem um monte de convites pra qualquer lugar. Eu só ando a pé. Não vivo num mar de rosas, pelo contrário, um monte de merda acontece na minha vida. Não tenho muitos amigos, só conheço muita gente.
Mas isso é porque esqueceram de me fabricar com aquela timidez que certas pessoas têm.
No lugar da timidez, me deram uma dose extra de caráter. Coisa que esqueceram de colocar em você! O que é uma pena, o caráter sempre me foi mais útil do que a timidez.

Acho que é por ser quem eu sou, que não consigo entender determinadas coisas!
Eu não queria ser como você. Deve dar um trabalho danado ficar se construindo, se inventando, pregando uma filosofia diferente da que se vive.
Disso você entende, não é mesmo?
Agora, como você consegue defender um ideal que na verdade não acredita, eu não sei.
Você deve ser meio psicopata, sei lá...

Você fala muito da vida dos outros e quase nada da sua. Isso me faz pensar que sua vida deve ser mesmo muito suja, porque você precisa esconder naquilo que você não é. Você finge que é uma pessoa tão digna e tão cheia de valores, mas quando a sua máscara cai, você mostra o quanto é arrogante. Essa generosidade que você encena, não passa de um egoísmo disfarçado e eu sei que você gosta de posar de vítima, porque a pena das pessoas esconde o seu verdadeiro eu.
Talvez você não saiba quem é e essa dúvida te faça mostrar quem você gostaria de ser.
Ou talvez você quisesse que as outras pessoas fossem assim com você.
Sendo assim, você tem uma imagem equivocada da vida.
Você nem deve saber de quem é o reflexo que vê no espelho.
Deve ser triste ser uma farsa.
Você quer brincar de fantoche com a vida das pessoas que te cercam, você quer manipular todos ao seu bel prazer, desconhece o que é remorso e representa sentimentos que só conhece cognitivamente, teoricamente... Fantasiosamente!
Quase chego a ter pena, mas acho que a palavra certa é repulsa.
E olha que eu já te quis na minha vida, mas isso foi quando eu não sabia quem era você.
Engraçado que há bem pouco tempo atrás, eu adotaria você como uma amizade de infância, como alguém da família... Mas isso foi quando eu acreditava que você era outra pessoa, bem diferente desse ser desconhecido que hoje eu vejo. Acho que tenho nojinho...

Existia a chance de eu estar errada, mas não dessa vez. E talvez, (talvez) eu até quisesse estar errada. É difícil pra uma pessoa que já foi tão otimista, acreditar que existam pessoas sem escrúpulos que nem você, pessoas que comemoram quando a outra cai, que se alegram com a desgraça alheia, que desejam (e executam) o mal a outras pessoas...
E pior, desejam (e executam) o mal a pessoas que “dizem” querer bem!
Dessa vez, eu tenho a mais pura certeza que não estou cometendo um erro.
Eu tenho a consciência limpa e minha cabeça não vai pesar no travesseiro quando eu for dormir.
Você eu não sei... Espero que não!

Eu sei que eu vou ficar como a vilã da história, porque eu sei que você vem com essa sua cara de boa gente e todo mundo acaba caindo na tua aparência angelical.
Eu sei, eu também caí. Na verdade, não me importa o que os outros vão dizer. Estou mais preocupada com o que não vou mais ouvir de você, porque essa tua falsidade, tua reza sem santo e todo esse teu latim estavam me cansando demais.
É, eu canso das pessoas e você até que demorou pra me cansar de vez.

Eu estava quase te desejando todo mal do mundo, sabe?
Falo isso de coração, sem medo de parecer arrogante - porque esse título é seu! Todo seu!
E quem sou eu pra roubar algo que você teve tanto trabalho pra manter, não é mesmo?
Eu estava quase te devolvendo em dobro todo mal que você me fez. Mas dizem que a raiva só contamina quem a sente né?
Então ta! Eu espero que a vida seja boa com alguém tão ruim quanto você. Porque se ela, a Vida, resolver ser justa, você vai sofrer muito!
Não te desejo mal. Não muito. Alias, nem sei se o que te desejo pode ser considerado maldade.
Talvez seja só justiça. Ou vontade que você aprenda as lições que a vida tenta ensinar.
E se você for pensar, isso seria quase um bem que eu te desejo.

Vai cuidar da sua vida enquanto você tem uma pra cuidar.
Você ainda tem, não é?
Ou não?



Me sinto mal lembrando o que aconteceu
Você tentou roubar
Mas o boomerang agora é meu.
~Boomerang Blues


Eu ia postar outra coisa, juro,
mas eu não aguento ficar quieta...
Não mesmo!

Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
Expresso pra Dois © Todos os direitos reservados :: Ilustração por Rafaela Melo :: voltar para o topo