Esteve a vida inteira amargurado por culpa da própria burrice.
Era uma vez um Peixinho de água salgada que vivia no fundo do oceano azul, iluminado pelo sol de um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.
Mas o Peixinho sentia-se muito sozinho e infeliz com tanta feiúra e escuridão.
Nadava de um lado pro outro sem conseguir enxergar a beleza do oceano em que morava.
Um dia, após bater com a cabeça num coral, começou a esbravejar e maldizer a própria sorte. Por que ele, justo ele, que era tão jovem, cheio de vida e energia era obrigado a viver isolado, num lugar feio e sem diversão? Ouvira histórias de um oceano lindo, límpido e reluzente, que esbanjava cores e diferentes formas de vidas, outras espécies coloridas, corais, algas, navios afundados pra brincar de esconde-esconde. Desejava aquilo com todas as suas forças. Ouvira histórias fantásticas que os Golfinhos, que muito viajavam, contavam sobre as belezas e perigos do mar aberto, das belezas do fundo do oceano, das praias de águas claras e dos humanos perigosos que hora os alimentava, ora capturavam como alimento. Sentia-se meio débil por pensar essas coisas, mas até mesmo correr esse risco seria melhor do que a vida monótona que levava. Pensando essas coisas, tomou uma decisão: esperaria que os Golfinhos voltassem de sua última viagem e pediria que lhe indicassem o caminho para as praias de águas límpidas, onde os perigosos humanos podiam ser encontrados. Decidiu que passaria o resto de sua existência se aventurando a fugir deles. Cada dia seria uma vitória, uma aventura, uma conquista... Sim!
Era isso o que queria.
Não pensem que foi fácil convencer os Golfinhos a cooperar com a aventura. Como vocês bem sabem, os Golfinhos são os animais mais inteligentes do planeta. Nem mesmo um humano é capaz de ser tão inteligente quanto um Golfinho. Existe até uma história que conta de onde vieram e para onde irão os Golfinhos no dia que cansarem de serem incompreendidos pelos humanos que só lhe dão peixes e não prestam atenção nos seus ensinamentos - mas essa é outra história. Atentemo-nos á história do Peixinho distraído, que de tanto insistir, conseguiu vencer um dos Golfinhos pelo cansaço. Este, entendendo que o Peixinho queria cometer algum tipo de suicídio criativo e já não conseguindo remover do pequenino essa idéia absurda, indicou-lhe o caminho, deu-lhe dicas de sobrevivência e desejou-lhe sorte, despedindo-se do Peixinho como se fosse a última vez que o veria com vida. O Golfinho sabia, mas não podia interferir nos planos e sonhos do Peixinho.
Ahhh como ele estava feliz. Despediu-se com prazer dos que conhecia e seguiu o caminho indicado pelo Golfinho sem olhar pra trás. Enfim, dava adeus àquela existência monótona e infeliz. Nadou o mais rápido que pôde e parecia-lhe que estava no caminho errado, pois nunca chegava á tal paia. Pediu informações a cardumes que passavam por ele e todos estranhavam suas perguntas e para onde estava indo, mas diante da insistência do pequenino, indicavam a mesma direção que o Golfinho havia dito. Afinal, ele que não haveria de estar errado. Algumas vezes se perdeu do caminho e escondeu-se nos cantos mais improváveis para descansar. Sentiu medo de ser comido. Sentiu medo de morrer de fome. Sentiu medo de não achar mais o caminho, mas a adrenalina daquele medo era ainda melhor do que a certeza de viver dias sempre iguais.
Alguns dias se passaram e exausto de tanto procurar, sentia q nadava em círculos e começou a esbravejar novamente, maldizendo a própria sorte. Ouviu uma voz aguda se aproximando e perguntando por que raios ele estava tão alterado. Tratava-se de uma Água Viva que estava ainda mais confusa que ele. O Peixinho então, lhe contou toda sua história e ainda amaldiçoando a própria vida, voltou a esbravejar. Compreendendo tudo que se passava, a Água Viva lhe disse calmamente que o problema era ele mesmo e não o lugar onde ele estava. O Peixinho refletiu, mas revoltou-se com o atrevimento da Água Viva em dizer que o problema era ele. Então ele vivia num mar escuro, sem cores e sem graça enquanto ouvia relatos de um oceano esplêndido do qual era privado e a culpa ainda era dele? Encheu-se de coragem e revolta e esbravejou coisas impublicáveis para a pobre Água Viva, que o tempo todo só queria ajudá-lo. E as Águas Vivas, temos que convir, não são seres muito pacientes. Cansada de ouvir as mazelas e desaforos do Peixinho surtado, tocou-lhe de leve, lhe dando um choque que o pequenino nunca havia sentido antes. Ele tomou um susto e com um grito deu três rodopios para trás e bateu o corpo contra um coral. Olhou pra trás e enxergou-o todo colorido. Correu assustado e quase ficou cego ao olhar pra cima e enxergar um raio de sol reluzente. Olhou mais á frente e enxergou algumas algas e outros Peixinhos coloridos nadando rápido em direção a ele. Correu feliz ao encontro deles, animado com tudo que via. E tudo era muito lindo e colorido. Enfim achara um lugar onde poderia ser feliz. Como queria agradecer aos Golfinhos, mas não voltaria para aquele oceano escuro onde eles moravam. Olhou para os lados e viu a Água Viva nadando já longe. Quis nadar atrás dela, mas ficou com medo de tomar outro choque. Começou a gritar perguntando-lhe o que ela havia feito para que tudo ao redor dele mudasse. Se fosse mágica, ela deveria lhe ensinar, pois voltaria pra transformar a escuridão onde vivia num lugar tão bonito quanto esse.
Mas o Peixinho sentia-se muito sozinho e infeliz com tanta feiúra e escuridão.
Nadava de um lado pro outro sem conseguir enxergar a beleza do oceano em que morava.
Um dia, após bater com a cabeça num coral, começou a esbravejar e maldizer a própria sorte. Por que ele, justo ele, que era tão jovem, cheio de vida e energia era obrigado a viver isolado, num lugar feio e sem diversão? Ouvira histórias de um oceano lindo, límpido e reluzente, que esbanjava cores e diferentes formas de vidas, outras espécies coloridas, corais, algas, navios afundados pra brincar de esconde-esconde. Desejava aquilo com todas as suas forças. Ouvira histórias fantásticas que os Golfinhos, que muito viajavam, contavam sobre as belezas e perigos do mar aberto, das belezas do fundo do oceano, das praias de águas claras e dos humanos perigosos que hora os alimentava, ora capturavam como alimento. Sentia-se meio débil por pensar essas coisas, mas até mesmo correr esse risco seria melhor do que a vida monótona que levava. Pensando essas coisas, tomou uma decisão: esperaria que os Golfinhos voltassem de sua última viagem e pediria que lhe indicassem o caminho para as praias de águas límpidas, onde os perigosos humanos podiam ser encontrados. Decidiu que passaria o resto de sua existência se aventurando a fugir deles. Cada dia seria uma vitória, uma aventura, uma conquista... Sim!
Era isso o que queria.
Não pensem que foi fácil convencer os Golfinhos a cooperar com a aventura. Como vocês bem sabem, os Golfinhos são os animais mais inteligentes do planeta. Nem mesmo um humano é capaz de ser tão inteligente quanto um Golfinho. Existe até uma história que conta de onde vieram e para onde irão os Golfinhos no dia que cansarem de serem incompreendidos pelos humanos que só lhe dão peixes e não prestam atenção nos seus ensinamentos - mas essa é outra história. Atentemo-nos á história do Peixinho distraído, que de tanto insistir, conseguiu vencer um dos Golfinhos pelo cansaço. Este, entendendo que o Peixinho queria cometer algum tipo de suicídio criativo e já não conseguindo remover do pequenino essa idéia absurda, indicou-lhe o caminho, deu-lhe dicas de sobrevivência e desejou-lhe sorte, despedindo-se do Peixinho como se fosse a última vez que o veria com vida. O Golfinho sabia, mas não podia interferir nos planos e sonhos do Peixinho.
Ahhh como ele estava feliz. Despediu-se com prazer dos que conhecia e seguiu o caminho indicado pelo Golfinho sem olhar pra trás. Enfim, dava adeus àquela existência monótona e infeliz. Nadou o mais rápido que pôde e parecia-lhe que estava no caminho errado, pois nunca chegava á tal paia. Pediu informações a cardumes que passavam por ele e todos estranhavam suas perguntas e para onde estava indo, mas diante da insistência do pequenino, indicavam a mesma direção que o Golfinho havia dito. Afinal, ele que não haveria de estar errado. Algumas vezes se perdeu do caminho e escondeu-se nos cantos mais improváveis para descansar. Sentiu medo de ser comido. Sentiu medo de morrer de fome. Sentiu medo de não achar mais o caminho, mas a adrenalina daquele medo era ainda melhor do que a certeza de viver dias sempre iguais.
Alguns dias se passaram e exausto de tanto procurar, sentia q nadava em círculos e começou a esbravejar novamente, maldizendo a própria sorte. Ouviu uma voz aguda se aproximando e perguntando por que raios ele estava tão alterado. Tratava-se de uma Água Viva que estava ainda mais confusa que ele. O Peixinho então, lhe contou toda sua história e ainda amaldiçoando a própria vida, voltou a esbravejar. Compreendendo tudo que se passava, a Água Viva lhe disse calmamente que o problema era ele mesmo e não o lugar onde ele estava. O Peixinho refletiu, mas revoltou-se com o atrevimento da Água Viva em dizer que o problema era ele. Então ele vivia num mar escuro, sem cores e sem graça enquanto ouvia relatos de um oceano esplêndido do qual era privado e a culpa ainda era dele? Encheu-se de coragem e revolta e esbravejou coisas impublicáveis para a pobre Água Viva, que o tempo todo só queria ajudá-lo. E as Águas Vivas, temos que convir, não são seres muito pacientes. Cansada de ouvir as mazelas e desaforos do Peixinho surtado, tocou-lhe de leve, lhe dando um choque que o pequenino nunca havia sentido antes. Ele tomou um susto e com um grito deu três rodopios para trás e bateu o corpo contra um coral. Olhou pra trás e enxergou-o todo colorido. Correu assustado e quase ficou cego ao olhar pra cima e enxergar um raio de sol reluzente. Olhou mais á frente e enxergou algumas algas e outros Peixinhos coloridos nadando rápido em direção a ele. Correu feliz ao encontro deles, animado com tudo que via. E tudo era muito lindo e colorido. Enfim achara um lugar onde poderia ser feliz. Como queria agradecer aos Golfinhos, mas não voltaria para aquele oceano escuro onde eles moravam. Olhou para os lados e viu a Água Viva nadando já longe. Quis nadar atrás dela, mas ficou com medo de tomar outro choque. Começou a gritar perguntando-lhe o que ela havia feito para que tudo ao redor dele mudasse. Se fosse mágica, ela deveria lhe ensinar, pois voltaria pra transformar a escuridão onde vivia num lugar tão bonito quanto esse.
O Peixinho ficou sem ação. Só um choque? Ficou pensando sobre isso e com assombro, chegou á conclusão que a Água Viva estava certa. O problema não era o lugar onde estava e sim ele próprio. O Peixinho compreendeu que nunca havia visto as belezas do oceano onde morava, porque sempre nadara de olhos fechados - o choque da Água Viva que o fez abrir os olhos e enxergar tudo que estava á sua volta.
Sentiu-se ainda menor do que era. Como pôde ser tão idiota? Como pôde ser tão distraído e não ter ouvido os conselhos dos Golfinhos? Esteve a vida inteira amargurado por culpa da própria burrice. Óbvio, se não abria os olhos, como enxergaria as cores e as belezas ao seu redor?
Cansado da própria estupidez (sim, porque estupidez cansa), resolveu voltar pra casa. Agora, de olhos bem abertos, certamente começaria uma nova vida ao lado daqueles de quem fugiu, no lugar aonde nunca chegou a conhecer, de fato.
Começou a peregrinação de volta e logo se perdeu. Os olhos abertos desviavam-no do caminho que seguis intuitivamente. Eram muitas cores para se distrair, muitos lugares para se perder. Tentou voltar a nadar com olhos fechados, mas não conseguiu. Teve medo, estava tudo diferente. Nadou rápido seguindo sua intuição e começou a gritar por socorro. Chamou pela Água Viva, pelos Golfinhos, pelos cardumes que conheceu - mas ninguém respondia. Passou dias e dias assim, se alimentando mal, descansado pouco e sempre nadando ás pressas rumo ao desconhecido.
Já no limite de suas forças, avistou um dos Golfinhos e começou a gritar por socorro quase sem voz, mas o Golfinho não ouviu. O Peixinho deveria estar mesmo muito fraco e cansado, pois como todos sabem, os Golfinhos têm uma audição incomparável.
Pôs-se a nadar em direção a eles e começou a reconhecer o oceano ao seu redor. Era o mesmo lugar em que crescera, mas era muito mais colorido e bonito. Enfim estava em casa e sentiu-se aliviado por ter conseguido chegar. Olhava encantado em volta, admirando tudo o que via. Resolveu descansar um pouco antes de continuar. Estava tão perto que já podia avistar seus amigos Golfinhos e os demais Peixinhos. Encostou-se numa pedra e sentiu que ela parecia mover-se devagar. "devo estar mesmo muito cansado".
De repente ouviu os outros Peixinhos gritarem e assustou-se com a correria. Quando olhou para trás, viu uma fileira interminável de dentes e um par de olhos assustadores em sua direção. Tentou correr, mas já era tarde.
Foi comido!
Então tudo voltou a ser escuro, sem cor e principalmente, sem vida!
É o preço que se paga por nadar por aí de olhos fechados!
A vida é muito curta para ser pequena.
~Disraelli
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