Expresso pra Dois: Quietude

Eu descobri que gosto de você, menino vadio.
Deve ser culpa desse teu sorriso tímido, que é quase um não-sorriso.
Ou talvez seja culpa desse jeito escorregadio, desse brilho escondido no olhar bandido, sempre fugindo dos meus olhos.
Não sou detetive, menino. Não pergunto pra te investigar os crimes.
Não te caço pra delatar os delitos, mas para deleitar neles.
Entende a diferença gramática? Gráfica?
Eu descobri que gosto de você, menino bonito.
E gosto desse cabelo que dança no vento e que você briga pra deixar no lugar. Deixa o cabelo dançar, menino. É uma dança bonita de se ver.
Faz com que eu pense nesse teu jeito livre que eu gosto tanto.
Eu sei lá porque, mas gosto mesmo de você. Porque escuto Renato Russo cantando na minha mente quando te vejo passar. Porque toca Chico Buarque quando você sorri. Porque se eu fizesse cinema, faria um filme inteiro de você, menino do Rio.
Ninguém entende o que foi que eu vi em você que nada diz. Você que quase nunca sorri. Você que não encara, não escala e não tropeça quando anda.
Você que é quase uma dissonância na minha melodia.
Uma discrepância hermânica* no meu destino.
Deve ser culpa do autor do meu roteiro eu ter esbarrado em você. Eu ter reparado na cor dos teus olhos. Jurei que você era cego de tão claros.
Esse teu ar de mistério é só charme ou você esconde alguma coisa atrás desses olhos tão vivos?
Eu sempre falo tanto, você sempre tão calado. Você me enche de hipóteses e conjecturas. Você alimenta minha imaginação, que perigo!
Repare bem como sem fazer nada, você brinca comigo...
O teu silêncio é a âncora do meu caos.
Eu descobri que gosto de você, menino esquisito.
Só me resta saber quem você é.

Quer saber porque eu gosto de você?
Eu ando gostando de silêncios...