7.7.11

A dona da história

Imagem: We♥It

"Por isso para o seu bem, 
Ou tire ela da cabeça
Ou mereça a moça que você tem"
~Chico Buarque ♥

Não baby. Tira essa caneta do meu papel que essa história é minha. E escrevo à lápis pra poder apagar quantas vezes for preciso. Só eu posso escolher o rumo desses personagens. O espaço desses figurantes. Posso muito bem transformar esse romance num mero encontro de olhares. Num embolar de fios de cabelo. Num embalar de trilha sonora escolhida a dedo. Posso transformar um esbarrão na rua em uma grande paixão. Um "boa noite" em "eu te amo". E depois colocar os meus bandidos na prisão, meus vilões em sanatórios e um fim com letras douradas no final da página.

Não baby. Não tente sentar nessa cadeira de diretor do meu filme. A história é minha, já disse. Não precisa se importar com o roteiro só porque você parece ser sempre o vilão. Tá tudo bem. É só mais uma história, não é o fim do mundo. E esse também não é um daqueles filmes tipo comédia romântica onde tudo fica bem no final. Não é um clichê. Mas também não é um drama. É só um filme sobre a vida real. E a vida é minha. Então, por favor, pare com essa pose de dono da história. Não é você quem decide os rumos do meu caminho.

Não baby, não se preocupe com aquelas cenas tristes. Não se importe se falo tanto e se pareço morrer. Ou se me acabo de chorar e digo que não sei o que fazer. É só porque a tristeza é coisa bonita de se ver nos filmes, de ler nas histórias.
A morte da bailarina também encanta o público, cheio de dor, de delírios e suspiros apaixonados.
Essa dor não dói. Esse corte não arde jogando álcool. Ou água. Ou mertiolate. Mas mertiolate não arde mesmo. No meu tempo ardia. Hoje não arde mais. Na verdade, acho que os cortes nunca arderam com o medicamento. Era só o charme pra ganhar beijinho da mamãe. Só pra deixar ela culpada e dar aquela sopradinha no machucado.
É isso, moço. No fundo, é isso.
É só charme pra ver se alguém dá aquela sopradinha no meu coração. Se alguém me passa um mertiolate no peito pra arder e secar as feridas.
Deixa ser sol, mesmo quando amanheço com chuva.
Se escondo tristezas atrás de um sorriso falso, bobo, é porque o coração é mais bobo ainda. As olheiras de insônias angustiadas, eu escondo com corretivo e base. Se tiver com olhos vermelhos, uso colírio e óculos escuros.
Deixa ser maresia que esse meu maremoto é só onda quebrando na arrebentação. Vira espuma na areia. Vira brincadeira de esconde-esconde pra Tatuí.

Não baby, não precisa chamar salva-vidas que eu não me afogo no raso.
Deixa sangrar, consagrar e coagular. Deixa ser, deixa estar.
Deixe pra lá porque no que eu me deixo não me deixa cicatriz.
Deixa ser silêncio que o barulho das multidões me empurra ainda mais pro meu vazio.
Deixa expurgar aquilo que não pode me ter. Que não posso ser.
Deixa ser inverno que meu sorriso ainda não maturou pro verão.
E não se pode cortar o casulo antes do tempo das larvas.
Deixa ser férias que eu volto a correr pelo quintal.
Mas não hoje, não hoje...
È tarde pra tentar mudar o script, baby. Cale sua voz, termine sua cena e fique quietinho ouvindo a trilha.
A câmera já fecha em você. E cena já vai lentamente em fade out.

Eu sou a dona dessa história. E é aqui que ela termina.


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Ps: Sobre o post anterior e sobre o plágio, a querida Simone me alertou que a plagiadora espertinha marcou a foto onde reproduziu meu texto como particular. Ou seja, agora só vê o plágio quem ela quer. Enfim...
Para a moça que me mandou e-mail explicando o que eu deveria fazer para processar a plagiadora, eu agradeço e daqui pra frente vou ficar esperta com essas pessoas. Mas esse caso, especificamente, eu vou deixar pra lá.
Para todos vocês, fica o alerta que plágio é crime,
E que existe uma Lei de Direitos Autorais. Fiquem de olho!

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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