21.4.11

Ovelha Negra


Eu levava uma vida não muito sossegada, mas sempre gostei de sombra e água fresca.
Foi quando alguém me disse que eu era a ovelha negra da família... Ahhh baby, eu não chorei. Juro que achei até engraçado, porque algumas pessoas não se conformam que você tenha um nome, sobrenome, idéias e personalidade. Elas precisam te dar um rótulo ou uma etiqueta pendurada no pescoço.
E a minha foi essa: "ovelha negra".
Eu nunca fui um exemplo a ser seguido e alguns diziam que eu era má companhia.
Sempre fui a chata que reclama dos pedaços de cebola na comida, a nojenta que não come peixe e não gosta de pudim de pão.
Quando criança, era a menina mais temida da escola e da vizinhança porque batia em todo mundo. Quando adolescente era a rebelde da família que vivia de mau humor e achava a vida um saco. Apenas uma professora enxergava algum potencial em mim, mas me dizia que eu precisava enxergar isso primeiro. Deixei a fase do "quem sou, o que sou" para a pós-adolescência e até hoje não cheguei a nenhuma conclusão. Passaram-se alguns anos e eu passei por várias fases até chegar no que sou hoje. O que não quer dizer que seja grande coisa.
Sempre achei aquela história do mundo dar voltas uma balela sem sentido. No entanto, de alguma forma, me sinto cada vez mais presa num mesmo ciclo. Como se a vida se repetisse infinitamente. Como se eu já estivesse com idade o suficiente para reconhecer esses ciclos, esse redemoinho infinito que a vida parece se tornar. Talvez também porque eu não faça significante. Aí a vida parece sempre igual. É fácil os seus dias se repetirem quando você não faz nada deles. Mas o que eu sinto, é que mesmo se eu fizesse algo grandioso hoje, amanhã ou depois a vida de uns três, cinco anos atrás ainda estaria se repetindo. Os mesmo erros, os mesmos sábados de tédio, os mesmos domingos de ressaca, o mesmo sermão. Como se alguém ficasse rebobinando a fita, voltando a exibição quadro-a-quadro, apagando e reescrevendo a mesma palavra até rasgar o papel. Como se alguém lançasse um novo livro a cada semana: uma nova edição da mesma história escrita há décadas e décadas atrás. É confuso. Me pergunto como posso repetir tantas vezes os mesmo erros? Como posso esperar um final diferente, se sigo o mesmo script? Talvez nem tenha o que entender e eu que fique gastando meu tempo pensando em soluções inúteis para um problema que não existe. Como se eu fosse um ratinho girando naquela roda estúpida sem chegar a lugar nenhum, apenas gastando energia para não enlouquecer. Para não ficar dando com a cabeça nas grades ao meu redor. Talvez fosse mais sensato bater com a cabeça até entender que não posso atravessá-las. Que por mais que eu não entenda, estou mesmo presa nesse maldito ciclo sem sentido.
Eu fico me apegando a pequenos detalhes e me pergunto se tudo isso vale a pena. Será que vale? Não vale! Não vale a pena carregar pro resto da vida uma plaquinha que penduraram no meu pescoço anos atrás e ficar o tempo todo passando atestado de que estavam todos certos. E por mais que eu tenha feito tudo diferente (ou exatamente igual) ao que esperavam, todos continuam enxergando no meu pescoço a tal plaquinha, mesmo que eu a tenha jogado fora. Sou um pote de geléia com um rótulo? Então me abre, mete a faca e me passa num pão.
Eu queria encontrar um jeito de fazer o que é certo para mim. Fazer tudo diferente. E ninguém pode fazer nada a respeito. Só eu. Meu Deus, quanto tempo eu passei sem saber? Quanto tempo eu passei sem fazer? E agora me pergunto se é tarde demais para ainda se sentir perdido, procurando se encontrar. Ou ao menos se reencontrar e finalmente seguir seu próprio caminho. É disso que eu preciso.

Mas como faço isso?

13.4.11

Baia e a Doida

A doida, no caso, não sou eu. Mas bem que poderia. Doida nessas músicas do Baia e não sei porque não falei dele antes aqui. Eu ando preguiçosa com o blog. Mas vamos lá.

"É chegada a hora da falácia"

Maurício Baia é um cara que não está por aí nas grandes mídias, mas está por aí na estrada desde 1992. Antes, era na banda Baia & Rockboys que se desfez em 2004 com a morte do guitarrista. Baia, então, seguiu seu caminho e laçou o cd Habeas Corpus em 2006 e recentemente, lançou seu cd/dvd ao vivo no Circo Voador.

Conheci o Baia a algum tempinho. De tanto que vi o Law Duarte comentar no twitter, fui baixar pra conhecer, porque eu NEM sou curiosa. E gostei muito.

Agora, como eu vou explicar e de certa forma rotular o trabalho do Baia, é que são elas.
Bom, Baia não é fraco não. Foi beber na fonte do iê-iê-iê do Raul Seixas, Tom Zé, Zé Ramalho e Bob Dylan. Assim dizem... D'oh!
Eu, Carolina, percebo em Baia um sujeito crítico, irônico e talentoso. Uma voz inteligente no rock (rock?). Talvez não seja uma voz que te conquiste de primeira, mas suas músicas com cadência de prosa são uma delícia.
Tem humor, tem crítica, tem romance. Quer mais?
Tem sotaque! O que já é um pré-requisito pra moça aqui gostar. =)
Além disso, Baia conta histórias com suas músicas. E ouvindo, você fica daí imaginando, construindo cenas.



Baia me ganhou de vez em um dia especial. O dia que vi seu show ao vivo.
Eu trabalho no Centro da cidade, no meio do caos e praticamente vizinha da Saraiva Mega Store (que chato) onde sempre gasto meu salário passeio em meus horários de almoço.
Em certo dia, a tôa na vida, estava entrando a esmo na Saraiva e escutei algo familiar.
"Conheço essa voz. Conheço essa música".
Olho pra cima e vejo Baia tocando, um banner enorme e todo aparato de show. Subi as escadas correndo e tava lá. "Pocket Show" do Baia na Saraiva. Galera cantando animada, se espremendo entre as prateleiras e expositores pra ver mais de perto. Mas que coisa, não?
E eu cá pensando: "caneco, quanta gente que sabe as letras" =)

Comprei o cd Ao Vivo no Circo Voador e ganhei foto, beijo e autografo.
Coisa de gente boba. Admito e não evito porque gosto disso! hahaha
Mas não foi ele, o Baia, que me ganhou. Foi o conjunto da obra.
Ele, o show intimista, as pessoas cantando junto.
-E o fato dele ter cantado minhas músicas preferidas, óbvio.

Ele faria um show no dia 19/03 no Circo, o qual eu teria ido se não fosse ao mesmo dia da Banda Seu Chico (de quem falo em outra oportunidade), por quem sou absolutamente apaixonada.

Sobre Baia, posso afirmar: só ouvindo mesmo pra saber.
No site dele dá pra saber de tudo um tanto. Tem a historia da banda, letras, cifras, fotos, agenda, dá pra escutar todos os CDs já lançados, desde a banda antiga "Baia & Rockboys" aos trabalhos mais atuais.
Inclusive um projeto paralelo chamado "4 Cabeça", eleito o Melhor Grupo de MPB no Prêmio da Música Brasileira.

E aí? É pouca coisa?


Vou deixar em negrito as seguintes faixas (que são as minhas preferidas e que recomendo fortemente):

Habeas Corpus (minha preferida EVER, 5 estrelas)
"Parece ate que eu sou um livro mal escrito
E que voce é uma caneta cor vermelha
Rasurando o que não aceita e nem consegue decifrar
Outras vezes você tenta feito louca rasgar as minhas páginas."



Lembrei
"Lembrei de me esquecer a tempo
Perdi meus maiores achados
Odiei por amor, utilizei coisas inúteis
Paguei caro por prazeres baratos"



Tu
"Tu é zero caloria, me abre o apetite
Só de te olhar eu sinto fome (...)
Olha que eu tô de dieta, mas tu é light"



Na fé
"Eu vou na fé. Sim, eu vou na fé.
Eu vou como eu puder, seja o que Deus quiser
Eu vou mas nem que eu tenha que ir a pé"



Trilha Sonora da Vida
"A trilha sonora da vida
Que eu trilho, eu trago e assopro no ar."



Baia e a Doida (que também tem uma versão em inglês), título desse post
"Ela jogou a sua isca, envenenou seu anzol
E fez daquele instante o infinito.
Me ensinou o Kama Sutra entre bolhas de sabão.
Entrou em uma delas, flutuou pelo banheiro.
Por aí você já pode imaginar...."



Trem.
"Mas a minha rotina desgasta os meus bons princípios por mais que eu tente ser forte."


Enfim. Acho que vale o clique. Maurício Baia fala por si mesmo =)


Segue a trilha:
Site Oficial
Baia no Trama Virtual
Twitter do Baia



"I gotta go and I hope you understand..."

1.4.11

Caixa Postal I


Querida Rosane

Sou um covarde por estar escrevendo essa carta ao invés de falar com você. E eu ia ser mais covarde ainda porque ia te mandar um e-mail, sendo que você mora tão perto e não sou capaz de falar com você depois de tudo. Decidi escrever essa carta pra esconder dentro do livro que você fez tanta questão que eu te devolvesse.
Talvez você nunca mais leia ele de novo, eu sei disso, porque ele vai te lembrar o tempo todo de mim e dessa história de nós dois.
Estou consciente que talvez você nunca encontre essa carta. Por isso a minha covardia é ainda melhor.
Talvez passe muito tempo até que você encontre essa carta. Talvez até uma outra pessoa a encontre. Aí tudo isso vai ter passado. Espero que a sua raiva também. Um dia, ao menos.
Rosane, sei que não agi certo com você e sei que você nunca vai esquecer a mágoa que te fiz passar.
Me perdoe, Rosane, eu sou um imbecil. Um paspalho que faz tudo errado e depois quer consertar, mas acaba piorando tudo.
Eu peço mais uma vez que me perdoe, já certo que não mereço o seu perdão. Mas quero que saiba que me arrependo, todos os dias, de cada um dos meus erros.
Quando você encontrar essa carta (se encontrar) espero que perdoe também a minha covardia. Eu sou criança Rosane, sou imaturo mesmo. Bem como você disse. Não sei como fazer essas coisas direito. Aliás, acho que não sei fazer nada direito mesmo.
Não sei como fazer pra você acreditar que eu te amo. Eu sempre amei você.
E pode estar certa que eu vou continuar te amando todos os dias da minha vida.
Mesmo que você nunca me perdoe. Mesmo que nada disso mude.
E mesmo que você nunca leia essa carta.

Um beijo
Pedro



E aí Rosane? Será que você leu essa carta?


Carta encontrada dentro de um livro que comprei em uma feira de sebos. Corrigi apenas uma ou outra pontuação e alguns "talvez" e outras palavras que continham um "s" no lugar de um "z".

Fiquei curiosa!
Não só pra saber se a Rosane leu ou deixou de ler a carta, ou do que o cidadão em questão tinha aprontado. Queria mesmo saber porque carambolas a história do casal tinha a ver com "O Diário de Anne Frank"...
Vai saber?


Com isso eu começo aqui a série "Caixa Postal". Essa é a única verdadeira por enquanto.
Se eu encontrar alguma outra eu aviso!

Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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