17.5.12

Algo de errado?

Roda Viva
Foto: Carol Rodrigues
Quando cheguei em casa, li mais de dez recados na caixa de mensagens. Também ouvi mais de dez mensagens no correio de voz. Todas suas. Em todas, você perguntava por onde eu andava, porque não atendia o celular, porque não retornava... É que eu viajei e deixei o celular com todas as suas chamadas em casa. O celular e o laptop. Não vi a caixa de entrada do meu e-mail, mas aposto que tem mais um monte de recados seus lá. É que eu viajei e deixei tudo aqui em casa. Viajei porque não queria mais ficar aqui e, confesso, me deu uma vontade danada de não voltar. Eu bem que queria escrever pra você. Dizer que estava bem. Contar que não ia voltar. Queria escrever, mas estava tão cansada, tão indisposta, que não escrevi nada. Não é a minha vida que me cansa. Nem a minha rotina. Eu juro que gosto do que faço. Tenho amigos maravilhosos, uma família legal e tudo o mais. Não há nada que me incomode a ponto de eu querer fugir. Não há nada de errado com você também. Na verdade, você é ótimo e eu não sei porque eu tenho essa mania de fazer da sua vida uma caixa de surpresas. Nem sempre surpresas boas, admito. Acontece, que eu queria viver dentro de uma tarde de sol em Itapuã e virar mpb. Eu queria me esconder dentro de uma daquelas fotos que mostram o pôr do sol no Arpoador e nunca mais viver o inverno. E eu queria te explicar tantas coisas... Mas fico engasgada com o tanto de palavras amontoadas na minha garganta, disputando a vez de sair.
Obviamente, tem alguma coisa de errado comigo. Até o porteiro do meu prédio me perguntou se eu estava bem quando cheguei. Eu estava mesmo afobada, carregada de malas como se tivesse me mudando de volta pra minha própria casa. De volta para a minha própria vida. Ele deve ter notado a minha cara de criança no fim das férias. E não é com cara de criança que não gosta da escola, mas sim de criança que gosta mais de brincar e ver tv do que estudar. Embora adore estudar.
Até o vizinho do 302 me perguntou se eu estava bem quando entrei no elevador esbaforida. Ainda perguntou se eu precisava de ajuda com as malas. Comecei a pensar que, definitivamente, devia ter algo errado com a minha aparência também. Eu não queria andar por aí com cara de passarinho preso em gaiola, esperando um descuido do dono pra fugir. Não queria que parecesse tão óbvio que eu não estava no melhor dos meus dias. Entrei em casa e chequei as suas mensagens. Vou retornar suas ligações, encontrar na mala um presente que comprei na viagem, comprar um vinho e te chamar para sair. Aproveito pra usar o perfume novo e conferir se ainda caibo no vestido mais bonito. Não necessariamente nessa ordem, mas por vias das dúvidas, vou usar um pouco de maquiagem pra esconder a cara de tacho.

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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