22.10.14

A Estrela de Prata - Jeannette Walls

Eu queria começar a falar de Jeannete Walls falando sobre outro livro dela, O Castelo de Vidro.
Eu comecei esse post fazendo uma resenha dupla sobre os dois livros, mas não gostei de como estava ficando e resolvi focar em um de cada vez.
Li o A Estrela de Prata recentemente, então vou deixar O Castelo de Vidro para outro momento, porque vou pegar para relembrar umas partes e marcar uns pontos legais para a resenha. Mas já adianto que ele é um dos meus preferidos da vida - então podem me cobrar!
Como disse no post do Book Haul, quando vi esse livro na livraria, esqueci o que tinha ido procurar e abracei o livro correndo para o caixa. Agora vou contar porque não me arrependi!


Para começar, "Estrela de Prata" é a terceira maior condecoração militar concedida a um membro de qualquer ramo das Forças Armadas dos EUA e terceira maior premiação por bravura ao enfrentar um inimigo, um reconhecimento por um ato de heroísmo. Demora-se um pouco para conhecer a história da Estrela de Prata no livro, mas ninguém seria mais merecedora de uma condecoração dessas do que as irmãs Liz e Bean - protagonistas de verdadeiros atos de bravura contra o maior inimigo que duas crianças podem enfrentar sozinhas: o abandono.


Charlote Holladay é uma aspirante a cantora na Califórnia dos anos 70, mãe de Liz e Bean.  Uma mulher deslumbrada com a fama que pretende alcançar quando for reconhecida como artista e que não hesita em abandonar as filhas sozinhas quando precisa correr atras de algum teste ou oportunidade para mostrar seu talento em agências e produtoras. Charlote não é uma pessoa centrada ou responsável, mas acredita que o único modo de viver, é esquecendo o passado e correndo atrás dos sonhos para conquistar o futuro. Não teria nada de muito errado nisso, se ela não negligenciasse a criação de suas filhas. De certo, Charlote amava muito as meninas, mas amava a si mesma em primeiro lugar e num dos devaneios de fama emergente, larga as filhas sozinhas com dinheiro suficiente para sobreviverem por um mês e some no mundo.
Mas muito se engana quem pensa que o livro é sobre a loucura de uma mãe negligente, o rancor de filhas abandonadas à própria sorte ou as implicações que um caso de abandono de incapaz poderia gerar. O livro é sobre Liz e Bean, duas irmãs que precisam enfrentar coisas muito difíceis juntas e precisam crescer antes do tempo para sobreviver. Liz e Bean aprendem muito cedo como é difícil ter que enfrentar a crueldade das pessoas, diversos tipos de preconceito, a hipocrisia que os adultos levam suas vidas, os segredos de família a que nunca tiveram acesso, parentes que desconheciam e principalmente, como o amor entre irmãs pode ser capaz de enfrentar a tudo isso e muito mais.

A aventura das irmãs Holladay começa, como dito anteriormente, quando sua mãe Charlote resolve ir atrás de uma oportunidade artística e some no mundo. Não era a primeira vez que isso acontecia e elas já estavam acostumadas. As meninas precisam se virar entre as tarefas domésticas, a escola, a curiosidade dos vizinhos e além de administrar bem o dinheiro que a mãe deixou para que se alimentassem pelo equivalente a um mês inteiro.  Elas cuidam uma da outra e compram tortas de frango no mercadinho do bairro para o jantar. Porém, Charlote sumiu no mundo por mais tempo do que as meninas conseguem disfarçar. Elas jamais duvidaram que a mãe voltaria, mas acabam atraindo a atenção do dono do mercado que muito prontamente resolve descobrir porque não tem visto a mãe delas pelo bairro.
Antecipando-se à visita dos agentes do Conselho Tutelar e acreditando que dessa vez estavam bem encrencadas, Liz e Bean resolvem fugir para não acabarem internadas em um abrigo para menores.

Os passarinhos me acordaram cedo na manhã seguinte. Eu nunca tinha ouvido passarinhos tão barulhentos.

Pensando sobre para onde poderiam ir, já que a mãe não deixou qualquer pista de onde estava, Liz e Bean resolvem viajar para a Virgínia, palco do passado e dos traumas de que sua mãe jamais falava. Elas procuram a velha casa da família e encontram tio Tinsley, um senhor viúvo, mau humorado e preso ao passado. A família Holladay era dona de um moinho de algodão onde trabalhava a maior parte da população da cidade e eram tão importantes, que até nomes de rua em homenagem aos Holladay existia. Mas com a decadência dos negócios, o moinho acabou sendo vendido para investidores e a vida do tio Tinsley perdeu um pouco do sentido. Então esse tio está enterrado em seu passado quando se dá conta de que as sobrinhas foram abandonadas por sua mãe e precisam de um adulto que olhe por elas. Então ele assume essa tarefa, porém tio Tinsley é um velho conservador e um pouco hipócrita e isso quer dizer que, apesar de prover abrigo e proteção, as meninas continuam se virando sozinhas.

Melhor carta. Liz ♥

Convivendo com o tio, as meninas acabam descobrindo a verdadeira história sobre o passado dos pais e conhecem parentes dos quais jamais ouviram falar. Liz e Bean fazem o que podem para se adaptar à nova rotina, aquelas pessoas e seus costumes típicos de uma cidade do interior. 
A escola onde vão estudar, na infantil ilusão de conquistar novos coleguinhas, se revela palco de uma tensa disputa territorial entre negros e brancos, ricos e pobres. Bean e Liz sofrem diversos tipos de preconceito e injustiças. Em meio a todo esse furdunço, uma coisa muito grave acontece e movimenta toda a cidade - além da mãe Charlote, que precisa enfrentar aquela cidade que tanto odeia para tentar ajudar e proteger as filhas.

E é óbvio que eu não vou contar o que é!


Toda a história, é contada aos olhos de Bean Holladay, uma menina de 12 anos, inteligente e espevitada que não tem papas na língua e frequentemente precisa se controlar para não falar demais. Isso confere o livro um tom de inocência e uma leveza já característica da narrativa de Jeannette Walls. Ela fala de coisas muito difíceis com uma simplicidade que deixa o leitor desconcertado. 
O comportamento instável e bipolar da mãe, confere às meninas uma maturidade incrível para a pouca idade delas. Por diversas vezes, Bean e Liz buscam compreender as atitudes da mãe, buscando meios de amenizar a história que contam sobre ela. Elas sabem que a mãe tem problemas mas procuram compreender as motivações de seus surtos, acabando por muitas vezes sendo cúmplices das situações que lhes são impostas. Porém a forma como elas encaram as adversidades é ao mesmo tempo realista e bela.
“Encontre a magia. E se você não puder encontrar magia, então a crie”
A Estrela de Prata, assim como o romance anterior "O Castelo de Vidro", traz um olhar crítico e dolorido sobre infância de crianças que são negligenciadas pela família. A história das irmãs não é narrada com rancor ou vitimização de duas órfãs com a mãe viva, mas com a esperança de um futuro melhor e com a certeza de podem superar qualquer adversidade com amor e persistência. A luta pela sobrevivência, o amadurecimento precoce, a busca pelo amor e a necessidade de extrair a felicidade e a esperança no meio disso tudo, também são temas bem focados no livro. Eu seria uma completa idiota se não recomendasse fortemente a leitura desse belo exemplo de um livro bem escrito.



Classificação: 5 Capuccininhos

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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