7.8.15

Léxico - o livro que não consegui parar de ler.


Compraria só pelas capas.
“Ela não curtia realmente ler, mas gostava do modo como os livros eram pistas. Cada um deles era uma peça de um quebra-cabeça. Mesmo quando não se encaixavam, elas revelavam um pouco mais sobre que tipo de imagem ela estava formando.” 
Existem livros que nos arrebatam de tal modo, que não conseguimos parar de ler até a última página. 
E também não queremos que cheguem na última página.
Foi assim com Léxico, do autor Max Barry.
Eu tinha acabado de inserir novos arquivos no meu Kobo e estava conferindo se todos abriam sem erros.
Abri esse livro, estava muito interessada nele depois de ler a sinopse, mas não era minha intensão ler naquele momento. Eu estava lendo outros dois e queria terminá-los antes de começar mais um - é claro.
Mas algo aconteceu entre o ato de simplesmente abrir o arquivo do livro e chegar na página 100.
Isso me rendeu até um selinho engraçado de conquistas no Kobo:

Pra quem não sabe, o Kobo tem essas brincadeirinhas de liberar selos confirme você conquista desafios :)
Pois é gente, prendeu mesmo e eu não consegui parar de ler esse livro. 
Mas vamos lá.
Sinopse:
Léxico - Uma organização treina jovens talentosos para controlar a mente e o comportamento das pessoas usando combinações específicas de palavras. Os iniciados deixam suas verdadeiras identidades para trás e passam a usar nomes de poetas.
Identificada como um prodígio na arte da persuasão, Emily Ruff, que ganha a vida com truques de cartas nas ruas de São Francisco, é enviada para o treinamento em uma escola da organização e começa a aprender a técnica letal. Quando os líderes da instituição descobrem que ela está se envolvendo com outro aluno, Emily recebe uma missão aterrorizante.
Wil Parke, carpinteiro, sofre de amnésia. Um dia ele já soube o significado da palavrárida, um artefato com o poder de colocar o planeta em risco. No entanto, não lembra mais. Wil é sequestrado por dois agentes brutais, que acabaram de matar sua namorada, desesperados para impedir que um membro da organização, de codinome Virginia Woolf, cause uma grande destruição.
Em seu novo livro, Max Barry constrói uma trama sombria na qual as palavras são como armas e os tipos mais vis usam como pseudônimos grandes nomes da literatura.


Quando eu era pequena, minha avó me dizia coisas como "muito cuidado com o que você diz, as palavras tem poder". Minha amiga Juliana sempre me repreende quando digo algo derrotista. Segundo ela, o que você diz influencia o que você recebe de volta do universo. A filosofia da minha avó e da minha amiga Juliana vieram a calhar com o enredo do livro. Isso porque em Léxico, palavras são mais perigosas do que armas. E vejam vocês, as pessoas mais perigosas do mundo, são os poetas!

Só um parênteses: Léxico, pode ser definido como o conjunto de palavras em uma língua - dicionário, repertório, grupo de palavras úteis e etc.

A história não chega a ser uma distopia, não se passa em um mundo destruído, com uma realidade oposta à que vivemos. Se eu posso fazer alguma relação, seria como se fosse uma Matrix - existem coisas acontecendo em algum lugar do mundo, mas a maioria das pessoas não tem ciência disso. Nessa realidade paralela, existe uma organização secreta que recruta e treina jovens para controlarem o uso das palavras. Eles se interessam por pessoas que demostram talento com as palavras, principalmente os que tem talento para a persuasão. E um dia, agentes dessa organização encontram Emily Ruff, que é uma garota jovem, simples, que vive de golpes aqui e ali. Ela fugiu de casa muito cedo e ganha a vida trapaceando em jogos de cartas. 
Ao chegar na Academia e conhecer os outros alunos, Emily arruma uma grande confusão porque não consegue encaixar. Ela é uma trapaceira, impulsiva e não lida bem com regras, mas acaba ficando porque seu mentor insiste com a diretora do local que a menina tem um grande talento a ser lapidado.
"Você pode ser uma pessoa inteligente, mas, se deixar outra pessoa filtrar o mundo para você, não tem como analisar criticamente o que está ouvindo"
Os membros dessa organização, aqueles que dominam seu léxico e são capazes de manipular qualquer pessoa apenas com o "dom da palavra", recebem nomes de poetas famosos.
Cada aluno, ao se formar, também recebe o nome de um poeta e esse passa a ser seu nome para sempre. Assim, as pessoas dessa academia passam a ser extremamente perigosas.
Emily não acredita que se encaixe entre aquelas pessoas, mas conforme seu talento vai sendo lapidado, sua mente se expande e ela começa a se destacar.
Pode parecer algo bom mas não é, porque Emily possui uma personalidade incontrolável. Uma Divergente, ops, livro errado.


Na Academia, as aulas ensinam que existem vários tipos de personalidades (segmentação) e como cada uma pode ser suscetível a um conjunto de palavras. Existem palavras que são capazes de manipular, de tornar o cérebro da pessoa receptivo à ordens e desfazer as barreiras de proteção de qualquer pessoa de acordo com sua personalidade. Para saber como manipular alguém, basta observar a sua personalidade para descobrir qual é o seu segmento e quais são as palavras adequadas a serem usadas. 
A coisa mais perigosa para um poeta é deixar transparecer qual é o seu segmento, porque assim ele seria facilmente manipulado. Os poetas escondem todos os traços de sua personalidade, seus desejos, suas expressões - tudo é sistematicamente controlado. Uma mera ruguinha de expressão pode ser fatal.
"Eliot era tão indecifrável quanto um tijolo"
Ao mesmo tempo que conhecemos Emily e tentamos entender a organização e os poetas, vemos um homem sendo sequestrados por agentes misteriosos que estão fugindo dos poetas.
Will Parke não tem a mínima ideia do que está acontecendo e não acredita em nada do que os agentes lhe falam. Ele não consegue entender se está sendo sequestrado ou salvo. Salvo de quem? Ele não sabe, mas obviamente estão sendo perseguidos por pessoas que o querem morto. Alguma coisa em Will, faz com que esses agentes e os poetas tenham interesse nele. Por algum motivo, acredita-se que ele é a única pessoa capaz de resistir à manipulação das palavras. No passado, Will soube o significado de uma palavra muito perigosa, mas esqueceu-se, teve uma amnésia. 
Essa palavra perigosa, foi capaz de destruir uma cidade inteira causando a morte de mais de três mil pessoas. E a palavra continua lá em algum lugar, porque todos que tentaram entrar na cidade depois disso, não voltaram.
Os poetas querem a palavra de volta, os agentes querem impedir que eles consigam e Will precisa acreditar nessa loucura e tentar ficar vivo.
"- Não entendo como pode ser uma palavra.
– É porque você não sabe o que são as palavras.
– São sons.
– Não, não são. Você e eu não estamos grunhindo um para o outro. Estamos transferindo significado. Transformações neuroquímicas estão ocorrendo em seu cérebro neste exato momento por causa de minhas palavras."
Agora é a parte da resenha em que eu preciso parar de falar para não cometer o grande pecado do spoiler (quase tudo que falei está na sinopse também, tá?).
Analisando a construção dessa história, consigo identificar uma crítica do autor que vou explicar aqui. Existem livros, palestras, cursos e workshops sobre uma metodologia de linguagem e comunicação chamada "Programação neurolinguística" (PNL). Não vou me aprofundar nesse caso (pros curiosos: google it), mas a PNL é usada para "programar a mente" das pessoas através de uma comunicação mais positiva. 
Aqui cabem aqueles livros que vemos (geralmente misturados erroneamente) no meio das seções de auto-ajuda. Livros chamados (títulos fictícios) "Como vender qualquer coisa para qualquer um", "Como fazer amigos", "Como convencer seu chefe a te promover", "Como influenciar seus amigos" e blablabla. O que esses livros trazem, são métodos de linguagem assertiva. A PNL pretende ensinar uma comunicação que é melhor recebida pelas pessoas. Aquela coisa de "saber qual argumento usar com cada pessoa", "vender seu peixe" ou "convencer a pessoa porque falou com jeitinho". A PNL vai muito além disso e falando assim parece papo de treinamento de vendedor (e é também, mas não só). Porém, como disse, não vou me alongar e isso pode ser só uma impressão minha que encaixa muito bem na história.


Eu achei uma sacada genial que os vilões serem poetas! Vejam bem, se no livro as palavras são perigosas, quem poderia ser mais perigoso do que pessoas que dominam a palavra? 
Então temos personagens chamados Virginia Woolf, T.S. Eliot, Charlotte Brönte, W. B. Yeats... E todos esses personagens são muito bem trabalhados, cada um tem sua história e suas características e o leitor fica interessado em cada um deles. A visceral Emily, o confuso Will, o enigmático Eliot, a perigosa Virgínia Wollf: todos personagens maravilhosos, indecifráveis e emocionantes.

Max Barry construiu uma trama complexa e eletrizante, que nos prende desde o começo. 
Pode ser meio confuso no começo, porque a história já começa em meio a um caos generalizado, mas existem pontes e um personagem específico que guia o leitor para a compreensão. A história não é clichê, é bem diferente do que vem sendo publicado atualmente. Um thriller original, fascinante e extremamente bem contado, cheio de reviravoltas e surpresas durante o decorrer da trama.

Me faltam adjetivos - talvez eu deva estudar linguística para expandir o meu léxico, mas agora fiquei com medo porque descobri o quanto palavras podem ser perigosas.


Classificação: 5 capuccininhos



Ps: Meu aniversário é em setembro e 
já estou aceitando o livro físico de presente.
Minha estante agradece ♥

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Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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