28.1.08

Busca a Vida

"Basta as penas que eu sinto de mim. Junto todas, crio asas, viro querubim" -TM




De tanto eu reclamar da Vida, ela veio reclamar de mim.
Veio cheia de si e me esbofeteou a cara em cheio.
E irritadíssima, cobrou os louros do tanto que lhe fui ingrata, reclamando em vão, desmerecendo seus grandes feitos.
Acusou-me de não saber vivê-la do melhor modo. Eu que sempre julguei que a compreendia, que sempre me vangloriei de fazer dela o que quisesse. Justo eu, que sempre imaginei que sabia como cantá-la nas canções.
Ela me mostrou as vezes que eu reclamei dos meus planos que ela frustrou e de onde eu cheguei por conta disso. "Foi melhor assim, não foi?" - dizia com certo rancor.
Me fez repensar cada pedra que eu pisei e dos cacos de vidro que ela evitou que cortassem meus pés.
Ela que se desdobra em mil pra satisfazer minhas vontades e vive a confabular com o universo pra realizar os meus sonhos.
Ela que sonda meus desejos e vontades mais íntimas e faz o possível pra concretizar.
Questionou se eu queria trocar de lugar, pra que ela vivesse a minha Vida e a ouvisse reclamar de tudo que eu fizesse.
Sim, eu precisava levar uma sova da Vida pra aprender.
Precisava aquele nó na garganta, aquele frio na espinha, aquela falta de ar...
Quando a Vida veio reclamar do meu modo de encara-lá, foi que eu notei a sutileza de coisas que não se vê
Reparei nas palavras que nunca me disseram, mas que mesmo assim eu ouvi.
Percebi as mãos que sempre me ajudaram a recolher meus cacos, a montar meus mosaicos e pintar de azul o meu céu.
Reconheci os rostos que sempre me sorriam - mesmo quando eu estava chorando
E descobri onde estava o caminho dessa estrada bagunçada que eu mesma construí.
Desculpei-me com a Vida e propus uma trégua!


Estou compondo uma bossa nova, que na verdade não tem nada de nova!
É velha, mas é renovada. E é sobre ela - a Vida!
Quem sabe assim, ela se sente maia amada...



*deu saudade de escrever pseudo-crônicas
**nos vemos depois do carnaval [ou não]

14.1.08

Manuscritos




Éramos a busca.
A procura pela soma de duas metades que se completassem e que não fossem a divisão de lados opostos.
Eu era a voz que ecoava nos precipícios, tu eras a voz que ecoava nos meus sonhos mais ermos.
Éramos a incerteza e a dúvida que pairava no ar como bolhas de sabão, como o brilho falso do esmalte úmido nas unhas.
Eu era a peça que deixava a platéia sem reação. Tu eras o verbo que me deixava no palco sem conjugação.
Éramos a aurora e encerrávamos nossos dias com espetáculo que deixa o mundo boquiaberto
E sem saber
Sem saber, fui conjugar os verbos que ouvia você dizer. E sem querer, errei os pronomes e não soube flexionar os tempos dos teus verbos. Pra mim, era o ontem - e você sempre foi o amanhã! Quis te conjugar no presente como quem pressente o que virá.
Pela porta entreaberta, pelas frestas da janela - minhas verdades descobertas.
E toda aquela dúvida, aquela angústia que me cabia - coube dentro da caixa de esquecimentos.
Assim, enquadradas no meu silêncio, eu pude dizer as palavras que eu não sabia que queriam ser ditas.
Olhei nos teus olhos e eu não precisei verbalizar aquilo que você enxergou nos meus.
Não preciso me desculpar pelas palavras que eu não disse, porque só você consegue ler nos meus olhos o que eu não consigo te dizer.
Você sempre soube o que eu queria esconder e o que eu queria mostrar.
Você sempre soube quais eram as palavras, as cenas, meus atos falhos e acertos escassos.
De fato, o certo é o que você me acerta.
E no carnaval sem máscaras coloridas, eu vejo a dança dos pagãos numa avenida.
Mas aquelas cores falsas não me apetecem.
A vergonha de uma nação inteira exposta na tv.
O brilho fictício de uma glória sem nenhum orgulho.
E enquanto todos eles dançavam aquele samba com os pés no chão, eu bailava um xaxado pelo céu.
Gritávamos emocionados as palavras cantadas por um palhaço.
E ríamos de toda certeza que um dia foi dúvida.
Quando o abraço apertado se tornou algo público e sentimentos foram gritados pra quem quisesse ouvir,
Não havia mais preocupação com verbos, concordâncias ou acentuações.
Éramos reticências, heróis de uma epopéia que dispensava narrativas.
E agora que você não está mais aqui, todas as minhas palavras são serestas.
Não sei mais prosodiar desalentos e aprendi a sorver o mel das palavras que eram um azedume
Eu não sei de nada, mas canto as palavras que eu quero que você escute.
Éramos a pose, o sorriso no retrato que traz um pedaço de alegria num pedacinho colorido de papel.
Um amor... Será? Seremos!
Seremos o que nunca fomos pra esquecer quem éramos.
Somos uma saudade.
Aquela saudade refletida em um prisma - uma em cada face diferente, mas que no final, são todas iguais.
Quando compreendi que o silêncio não é angústia, senti o vento ecoar o som da tua risada.
E sorri pensando que essa tristeza até que é bem alegre.
Éramos a busca, hoje somos a espera.
E espero que você entenda as palavras desse manuscrito mal traçado, com essas letras garranchadas.
Desfaço os nós da poesia na inspiração dessas minhas palavras, para que você saiba o que eu disse e você não ouviu, mas poderá ler!




Your love is thick and it swallowed me whole
You're so much braver than I gave you credit for
That's not lip service

You've already won me over in spite of me
Don't be alarmed if I fall head over feet
Don't be surprised if I love you for all that you are
I couldn't help it
It's all your faults



8.1.08

Limpando a Poeira...



Desde o ano passado que eu não atualizo este blog! E se me perdoem confessar, por absoluta falta de vontade mesmo porque tem um monte de coisas no rascunho!
Talvez não exatamente "vontade", e nem falta do que falar - talvez falte apenas um"como" dizer tudo que eu tenho vontade.
Estou num momento muito egoísta da minha vida. E "egoistamente maravilhoso" se interessa saber - daqueles que você vive quase em um transe e não quer sair de jeito nenhum - nem pra escrever um post e dizer: "tô viva".

Mas antes de continuar, porque esse assunto egoísta rende demais deixa eu contar pra vocês como foi meu Reveillon.

A Comunidade Pratododia, me deu um um? presente de natal maravilhoso - e adiantado pacas - que foi a amizade arrebatadora com pessoas raras, raríssimas.
E foi com essas pessoas que eu passei a virada do ano de 2007 pra 2008.
Fizemos um "pré-reveillon" na casa do Edu, amigo querido, onde pudemos papear, brincar, cantar, comer e acreditem, ir pro meio da rua - mais precisamente pro sinal de trânsito - fazer malabares e tirar fotos. Sim, eu tenho fotos pra provar!
E foi divertidíssimo, de verdade!

Depois das loucuras tão comuns e normais que costumamos fazer quando estamos juntos, fomos pra Copacabana numa aventura que envolveu cantoria e gritos que transformaram um coletivo em ônibus escolar - até que o ônibus quebrou no meio do caminho e tivemos que pegar outro, lotado e zuar o dobro pra não perder o bom humor com esse primeiro imprevisto.
Em Copa, outra aventura pra encontrar e juntar ao grupo as pessoas que foram direto pra Copa.
E acreditem: encontramos todo mundo no meio daquela multidão!

O Segundo imprevisto, foi de uma causa mais pessoal.
Por volta das 23hs, tentei mandar uma sms e o serviço da Vivo não completava o envio da mensagem. E como se não fosse ruim o suficiente passar o ano novo longe dele, também não consegui sinal pra falar no celular! Nem venham dizer que a culpa é minha porque a Vivo é ruim, dessa vez TODAS as operadoras estavam fora do ar. Sei disso pq eu tentei ligar de Vivo pra Tim, de Oi pra Tim, de Tim pra Tim e nada...

A meia noite chegou mais cedo em Copa, não sei quanto tempo, talvez só uns dois minutos...
E virar o ano com pessoas tão especiais, foi sem dúvida, maravilhoso! Aquele abraço raro, da pessoa rara, á meia noite, é sem explicação! E todas as declarações nos primeiros minutos de 2008 que eu disse e ouvi, também não tem preço. Amizades que vieram pra ficar!
As brincadeiras, os sorrisos, chamar atenção da praia inteira com Pois de Fogo[né Edu, Rafa e Damasco?] e com Pois de Vagalumes -como o Edu chamou as luzes de Led que eu amarrei no meu poi de pano...
Enfim... Detalhes que só sabe mesmo quem esteve lá!

Saímos de Copa e fomos andando pra Ipanma - aqui começou o programa de índio - e foi a pior coisa que fizemos!
Ipanema nunca foi tão longe... Chegando lá, só algumas pessoas foram pra Rave - quase todo o grupo ficou morgando na areia - longe da rave.

Mas à meia noite em Copa, o meu pensamento estava lá longe, no RS - ou melhor, em SC, que é onde ele estava. Mas o sentimento que mais pesou, foi a saudade. Uma saudade absurda e ensurdecedora! De alguma forma, é como se a ausência dele fizesse tudo parecer vazio e sem sentido - óbvio, o sentido é ele quem traz.
Eu abraçava o Edu e não sabia quem chorava mais: ele ou eu - cada um por seus motivos.
E o celular sempre na mão, rediscando o tempo todo sem completar uma ligação sequer...
Faltou ele. Faltou a parte mais importante da minha vida pra abraçar á meia noite e tentar dizer uma parte de tudo que ele foi na minha vida no ano que passou e tudo que ele ainda vai ser no ano que nem começou ainda.

A salvação da noite, que é também a salvação diária da minha vida, foi conseguir falar com o amado por alguns minutos - até o sinal sumir de vez de novo.
Aquelas poucas palavras embargadas num choro mole que eu consegui dizer pra ele, eram pra ser ditas, ou melhor, sussurradas bem de perto.
Aquele abraço que eu não pude dar, aquelas declarações que eu não pude fazer e aqueles momentos que não pudemos passar juntos, ficaram flutuando no ar, pairando na minha cabeça e mareando meus olhos o tempo todo [ate agora].

Mas eu não reclamo! Não posso reclamar.
Aliás, o que eu posso reclamar da vida se tem tão pouco tempo que eu comecei a viver?
Antes eu só existia, mas ele trouxe um sentido pra minha vida que não existia antes.
E esse é o ponto em que recomeço e volto a falar do momento mais egoista da minha vida - o momento que eu quero só pra mim, mas acabo falando aqui porque eu estou tão feliz e isso é tão óbvio e tão notável, que fica dificil querer guardar só pra mim!

Sabem... eu sou uma pessoa de sorte!
Tenho comigo a pessoa mais maravilhosa do mundo. A única pessoa que me deixa sem ação, sem palavras, sem chão...
Isso porque é único! Não adianta, não tem igual e nem sequer parecido!
E eu fico meio abestada de pensar que ele está comigo e que quer estar do jeito que ele diz que quer!
Eu me derreto só de ouvir a voz dele, com aqueles erres e esses tão 'perfeitamente normais' quanto o meu sotaque chiado que ele adora.
Eu, achando que já sabia muito sobre a vida, pensava que eu já conhecia tudo dessas coisas de amor e dor, saudade e coisas do gênero. Tola! Eu não sabia de nada, eu achava que sabia.
Como eu poderia saber se antes não tinha ele?
Foi ele que chegou e explicou o mundo pra mim - sim, isso foi um plágio ao Nando Reis.
E mais do que explicar, trouxe pra minha vida um sentido que não existia - a minha parte que não tinha e que agora é a parte mais importante da minha vida! Pra todo dia e pra toda vida!
O Resto é saudade e espera por dias melhores, com ele do meu lado.
E esses dias virão, porque 2008 acabou de começar e nós temos muito o que viver ainda...


E em breve, muito em breve, eu vou estar cantando Engenheiros:
"Da janela do avião eu vejo Porto Alegre" Mas por enquanto eu canto assim:
"Tô me guardando pra quando o carnaval chegar"

d-_-b - Nadica...

Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
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