27.3.09

Minha Casa é meu Reino

"Atras da porta guardo meus sapatos. Na gaveta do armário coloco minhas roupas. Na estante da sala vejo muitos livros. E a geladeira conserva o sabor das refeições. Minha casa é meu reino"
~Biquini Cavadão







A mochila está no chão, ao lado da cama. A calça jeans que eu usei hoje e que provavelmente vou usar amanhã pra não sujar outra calça limpa e depois ter que lavar duas, está jogada nos pés da cama. Não esta dobrada. Nunca está né?
Minhas havaianas vermelhas estão em baixo da cadeira em frente o computador e minhas chaves estão jogadas em baixo do monitor.
Eu olho no relógio, mas ainda está cedo pra conectar o msn. Então eu coloco o cd da trilha sonora de Amelie Poulain e fico olhando em volta, pensando nos pequenos prazeres que eu tenho na vida e na organização quase bagunçada da minha vida.
Na parede tem um mural com muitas fotos, tantas que não tem espaço pra nenhuma outra. Já pensei em comprar um mural maior, mas não tenho espaço na parede.
A cama está forrada com o edredom que vou usar pra me cobrir de noite. Sim, faz frio no RJ de vez em quando, e por estar tão acostumada com o calor, qualquer friozinho já me derruba. Ao lado da cama fica minha estante entulhada de cds em ordem alfabética e livros por ordem de tamanho.
Em baixo da cama, dentro de caixas de sapato não tem sapatos, e sim coisas que eu não quero, não preciso ou não costumo mexer. Tem provas de um passado esquecido, agendas antigas, contas e faturas já pagas, umas telas que um amigo pintou durante o colegial e que eu nunca coloquei em molduras, apesar de achar que valeria muito a pena.
Quando você veio aqui fiquei com medo que você pensasse que eu sou louca, que eu não mexia nos cds pra não tirá-los da ordem, que reparasse que as pastas do meu computador são todas organizadas e separadas e os e-books estão em ordem alfabética e por nome de autor.
Você não abriu minhas gavetas e nem mexeu no meu armário, mas se tivesse feito isso verias as blusas separadas por cores. Fiquei pensando que você me acharia ainda mais criança do que eu normalmente demonstro ser, quando visse a quantidade de bichos de pelúcia, bibelôs e brinquedinhos que eu tenho pelo quarto. E fiquei pensando apenas, que você gostaria de se ver nos porta retratos, no meu desktop, na minha agenda...
Você não acha que eu sou louca, apesar de todas as provas que eu te dou de não ser muito normal. Talvez você até pense que pode ser complicado lidar com uma pessoa tão sistemática, mas você não se preocupa com essas manias de organização que eu tenho.
Sabe, quando eu estava na sua casa, fiquei reparando suas estantes de livros. Porque eu reparo nos livros das pessoas quando elas me convidam pra ir em suas casas e acho muito estranho quando não os vejo em algum lugar, mesmo que sejam poucos ou simplesmente didáticos. Eu reparo nos livros que as pessoas tem, no que elas lêem, na maneira como elas os arrumam em casa. Eu fiquei com uma vontade incontrolável de colocar teus livros em ordem de tamanho, de olhar um por um e ver se não tinha mais de um do mesmo autor pra guardar junto, de pegar teus cds e colocar em ordem alfabética também.
Mas aí sim, você me acharia louca.
Eu tenho escrito muito. Escrito coisas que eu não sei se vou publicar neste blog.
Eu escrevo nesse blog por metáforas, principalmente quando falo sobre meus sentimentos, sobre meu jeito, minha vida... Escrevo sempre por metáforas. Fico pensando se as pessoas que lêem acham graça dos meus complexos de Peter Pan, das minhas idéias, meus pequenos dramas e dos meus recados nas entrelinhas.
Eu não te disse esses dias que eu acho que só sei escrever bem quando falo por metáforas?
E eu fiquei rindo quando as pessoas lêem os posts e não entendem lhufas. Geralmente sou eu que não entendo o que as pessoas querem dizer com determinados textos, com determinados contos,, com certas histórias e fico quebrando a cabeça pra encontrar a alguma lógica.
Eu tenho essa mania de tentar entender o que se passa na cabeça dos outros. Não reparou o que eu faço com você? Fico te rodeando com perguntas aleatórias e montando um quebra cabeças pra entender o que você quis dizer, o que andou pensando, como reagiria...
Eu fico pensando na bagunça da minha vida, na quase bagunça da minha casa e fico querendo desvendar o que as pessoas pensam de mim.
Não que eu queira saber a opinião de todo mundo, de pessoas que mal me conhecem, mas de algumas eu gostaria de saber.
Não das pessoas que não sabem o que pensam das outras, nem das que ficariam indecisas, muito menos das que gostam de julgar nossos pequenos defeitos como graves falhas de caráter.
Algumas pessoas me intrigam, instigam minha imaginação e eu fico pensando se seria legal ter o poder de ler suas mentes. Depois desisto da idéia, porque sei que eu ficaria neurótica, querendo ler pensamentos, descobrir segredos e poderia acabar descobrindo coisas que as pessoas pensam sobre mim que eu não gostaria de saber.
E se eu descobrisse que você pensa que eu sou louca?
Na verdade eu não gostaria de ler sua mente não. Eu gosto que você seja a incógnita que é.
A verdade é que eu gosto desse jogo de mistérios que você faz sem querer.
Eu também gosto de tentar entender o que você diz...
O cd da trilha sonora de Amelie Poulain já está acabando e o celular acabou de tocar.
Não atendo, sento no computador e conecto no msn achando melhor continuar com a dúvida, porque o tempo é curto demais pra perder com dúvidas tão bobas!



"É porque trago tudo de fora e minha casa é um espelho.
Onde a noite eu me deito e sonho com as coisas mais loucas, sem saber porque”
~Biquini Cavadão

18.3.09

Um Bom Rapaz


Conta outra, nessa eu não caio mais... ~Maria Rita


Tudo bem, eu confesso! Eu não acredito em você!
Não que você me dê motivos para não confiar, mas eu simplesmente não acredito que você diga a verdade.
É verdade que você nunca me mentiu. Ou pelo menos eu presumo que não.
Mas eu só acredito em mim mesma, sabe?
Não é que você não inspire confiança, pelo contrário. Você é até confiável demais e é aí que está o problema. Eu não confio em gente confiável demais.
Você tem aquele ar de bom rapaz, de bom amigo, bom filho, bom irmão... O cara mais legal do bairro, o mais querido da comunidade, o orgulho da família... Diriam até que seria um bom pai e um possível bom marido, embora eu não esteja (nem de longe) pensando nisso. Sinceramente, não são todas essas (des?)qualificações que me atraem em um homem. Você é bonzinho demais e eu não confio em gente boazinha. Talvez por isso prefira os canalhas, porque deles eu sempre sei o que esperar. E sabendo o resultado, não espero nada além do que eles podem me oferecer. E quando quero, sei exatamente o que posso querer!
Eu não confio em você e o que eu duvido (embora "duvidar" não seja a palavra certa) é que você esteja falando a verdade.
Eu sei que assim eu enceno novamente o papel de louca, porque ninguém no mundo teria motivos para mentir uma coisa dessas.
Acho até que a sua crença não permite que você seja um mentiroso descarado, como eu ou qualquer um.
Mas nem vem, essa cara de bom moço é que não me convence.
Ainda que você não minta por prazer, como eu e tantos outros, ainda que não minta por compulsão ou apenas para ocultar pequenos deslizes, uma mentira ou outra você deve contar. Ah, isso deve.
E vai que essa "uma ou outra" é justamente o que você me disse?
Algum deslize você tem que ter cometido. Alguma coisa você esconde! Ninguém é tão certinho assim, a troco de nada...
Ahhhh vai? Conta outra! Nessa eu não caio mais!



Já foi-se o tempo em que eu pensei que você era um bom rapaz!
E corta essa, de querer me enganar. Coisa boa é Deus quem dá.
Besteira é a gente que faz!




*Totalmente usurpada de "Conta OUtra"
Só pegando o ritmo pro próximo show da Maria Rita
Ah se vou...

1.3.09

Sonho de uma Flauta - Hermann Hesse




Quem me conhece, sabe da minha predileção pelo escritor Hermann Hesse.
Uma paixão que começo quando li "O Lobo da estepe", até hoje o meu preferido.

É sempre engraçado quando chego nas livrarias e sebos perguntando pela seção de literatura alemã. Não sei porque me olham engraçado. Talvez eu tenha cara de quem compra livros de poesia e auto-ajuda. [blergh]
Pensando em passar a usar meus óculos com mais frequência. Eles me dão um ar sério e ninguém estranha se eu peço livros que o vendedor nem sabe que existem! Humpft

Mas voltando a falar do meu amigo Hermann, este livro deve ser meio raro, porque não o encontrei em lugar nenhum. Comprei na internet.
Eu sou dessas pessoas que não economizam com livros e possui mais livros do que espaço pra guardá-los. Apesar de ter a maioria dos livros do Hermann em e-book, não abro mão de comprá-los quando encontro. É muito bom tê-los ao alcance das mãos, bem aqui na minha estante. Ás vezes compro edições novas de livros que eu já tenho e aposento as antigas! *maníaca? quem?

Aliás, fica aqui a dica pra quem quiser me presentear: qualquer livro do Hermann Hesse me deixaria feliz! (Aqui eu tenho este, O Lobo da Estepe e O Jogo das Contas de Vidro)


Sonho de uma Flauta, é o nome de um dos nove contos que compõem o livro.
Não sei se foi escolhido para título por ser um dos principais contos ou por ser o que tem o melhor título. Sei que o meu preferido vai ser sempre o primeiro deles!
O livro não está disponível em e-book, mas o conto que dá título ao livro pode ser lido aqui.
Originalmente, chamava-se Märchen, que quer dizer "conto de fadas" e foi lançado logo após Demian sob o pseudônimo de Emil Sinclair, com o qual Hermann ganhou o Prêmio Fontane de Literatura. Anos depois, quando a verdadeira autoria de Märchen ficou conhecida, Hermann devolveu o prêmio.

A leitura de cada um dos contos, propõe ao leitor uma reflexão. Nem que seja a de "ler de novo" pra tentar entender. E uma coisa eu garanto: cada leitura, ainda que do mesmo conto, renderá uma nova interpretação.
Talvez algumas pessoas não entendam nada, literalmente, por não ter uma visão metafórica das coisas ou por não estarem acostumadas a fazer ligações, comparações... Não é o meu caso!
O que alguns podem julgar ingenuidade, simplicidade ou despretensão, deve ser observado com calma e lido com atenção, para somente assim, compreender do que se trata.
Hermann Hesse tem esse olhar mistificado da natureza e de tudo que a compõem, esse questionamento sobre a forma do ser humano se portar, viver e enxergar o mundo, esse lirismo escondido ou escancarado em cada palavra, em casa conto... E só ele o faz com tanta particularidade e maestria.
Em Sonho de uma Flauta, vemos a natureza de uma maneira que não estamos acostumados a ver: com vida própria! Coisas que muitos julgarão irreais ou pura poesia. E sendo assim, poetas tem o dom da criação e liberdade intelectual.

Eu, como fã, já consigo reconhecer algumas características da escrita de Hesse. E fico fascinada cada vez que leio algo desse autor. Quem não conhece, haverá de se encantar e no fim da leitura, sentirá tristeza por ter terminado um livro tão gostoso de ler.
Dizem que essa tristeza só acontece quando o livro é realmente bom.
Bom, isso explica meu sentimento ao terminar de ler Sonho de uma Flauta.
Mas talvez eu encontre por aí, um vendedor de espelhos como um que eu conheci no livro. é certo que eu compraria um dos pequenos, de bolso, desses pra carregar por toda parte pra não esquecer o próprio rosto.
Ou talvez conheça um rapaz a quem ninguém consegue odiar, um poeta em busca das palavras perfeitas, a busca do amor, o caminho difícil para uma outra estrela ou as lembranças guardadas na íris de uma flor.
Nesse dia, talvez eu consiga fazer uma narração precisa do que acontece em vilarejos festivos, em montanhas encantadas ou as metamorfoses possíveis na natureza e em seres humanos quando se encontram e tornam-se um só.
Mas enquanto não consigo... leiam Hermann Hesse!

Fica a dica!



"O mundo é muito bonito - disse eu - meu pai tinha razão"
~Hermann Hesse


Carolina! Na verdade se chama Ana Carolina e não gosta de ser chamada de Ana. Não revela a idade, mas todo mundo diz que aparenta bem menos. Fotógrafa e estudante de Jornalismo. Mudou de área depois de anos insatisfeita com a profissão. Carioca, apaixonante e implicante. Carinha de 8, espírito de 80 anos. Chata, mal humorada e anti-social. Gosta de rimas simples, de frases bobas e é viciada em café. Na vida passada foi um gato tamanha preguiça. Tem mania de ter manias, coleciona coisas inúteis e acha ridículo isso de falar de si mesma em 3º pessoa.

 
Expresso pra Dois © Todos os direitos reservados :: Ilustração por Rafaela Melo :: voltar para o topo